Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Balanços e expetativas

16/12/2020

No balanço de 2020, devo confessar que este foi o ano que mais desejei que chegasse ao fim.

Não que o seu término apague os efeitos que esta pandemia trouxe e trará, mas pela carga psicológica de esperança que o passar de um ano sempre representa, e desta vez ainda mais pois estamos todos na ansiedade de que o começo da vacinação nos permita o regresso a uma vida com menos limitações.

Para o imobiliário, como de resto para a larga maioria dos sectores da economia, 2020 foi um verdadeiro desafio que deitou por terra as expetativas que se almejavam em janeiro, altura em que os desequilíbrios entre a oferta e a procura, motivados pela ausência de stock imobiliário (para a classe média e média baixa), já faziam prever um abrandamento do número de transações, ainda que se continuasse a contar com um ligeiro crescimento, que naturalmente não ocorrerá.

O ano ainda não fechou, e como tal o número oficial de transações ainda não é conhecido, mas os resultados do primeiro semestre confirmam uma quebra de 11% na venda de alojamentos familiares, face ao período homólogo. Ainda assim, estas quebras estão bem justificadas pois há que considerar que a pandemia trouxe a implementação de sucessivos estados de emergência e confinamentos, bem como restrições de circulação que influenciaram diretamente o mercado, sobretudo no que diz respeito ao investimento estrangeiro, que foi quase residual.

Para 2021 é muito difícil antecipar expetativas: tudo dependerá da evolução da situação pandémica e do impacto que o fim das moratórias de crédito, previstas para setembro, terá no mercado. Sabemos que vamos ter pela frente um grande desafio decorrente das consequências da pandemia no tecido empresarial português e no mercado laboral, bem como no segmento comercial e de escritórios que decerto assistirão a mudanças decursivas de novos hábitos ora adquiridos.

Mas tenho algum otimismo, resultante da sanidade do sector. Se na última crise que atravessámos havia excesso de oferta e de exposição dos proprietários ao setor financeiro, desta vez a realidade é diferente, pois continuam a faltar no mercado ativos que possam dar resposta à contínua e crescente procura por parte da classe média e média baixa, que prosseguem sem conseguir encontrar casas à medida das suas necessidades e possibilidades.

Sei também que temos capacidade para valorizar ainda mais este sector com uma aposta virada para a descentralização, que pode e deve passar pela captação de investimento estrangeiro, pois apesar do mercado interno ser muito importante, como aliás se pôde confirmar no corrente ano, não é suficiente para garantir novas dinâmicas económicas.

Tenho a convicção que o imobiliário voltará a ser uma das principais forças motrizes da economia, logo que a nuvem de incerteza desapareça, e sei que os empresários que conseguirem ultrapassar esta fase difícil, vão querer correr contra o tempo e recuperar este ano “quase perdido”, com efeitos positivos no investimento, no consumo e na nossa Economia.