Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

A Bolha

12/01/2022

Alguns anos passados, reconheço grande incapacidade em prever o futuro, principalmente aquele que se distância por qualquer meia dúzia de anos. No entanto, acho que todos devemos conhecer a nossa realidade, a que nos rodeia, principalmente nos seus aspetos óbvios.

Os imóveis, talvez por serem isso mesmo, e principalmente o valor da terra onde assentam, têm progredido em valor há muito tempo; seguramente há muitos séculos.

Em alguns momentos esta progressão de valor foi interrompida, nomeadamente por guerras, revoluções, acidentes naturais, pandemias e, recentemente, por incidentes financeiros mais ou menos globais.

Muitos da minha geração e outras mais velhas, deverão recordar-se que no final do século passado, em Portugal, à semelhança do que acontecia em tantas outras economias, nomeadamente a Americana, era frequente alguém dirigir-se a um Banco com o objetivo de obter um financiamento para a aquisição de um imóvel e ficar a conhecer a disponibilidade e interesse em colocar mais um “dinheirinho” para a troca de carro, uns móveis novos, um videotape ou umas férias em Cancum.

E durante muitos anos esta e outras práticas eram asseguradas pelo valor teórico de determinado imóvel que tinha a obrigação de superar o valor do “Excel”.

Um dia, uma entidade financeira colapsou e tornou-se imperativo passar à ação, ou seja, hora de converter os imóveis em dinheiro. Chegada à altura, caracterizada pelo “contágio” a todos os que se encontravam em idênticas condições, rapidamente concluíram que o valor das folhas de Excel, não era realizável no mundo real, principalmente no contexto de generalização.

Este foi o mais recente, evidente e marcante episódio do que se vulgarizou chamar de “bolha imobiliária”. Felizmente, para todos, depressa as entidades financeiras mais expostas apressaram-se a corrigir e a prevenir incidentes idênticos.

Hoje, em Portugal, não só não é possível ir a Cancum com a compra de casa, como é necessário ter uma parte de capitais próprios, 15 ou 20 % do valor do imóvel, de modo a que quem financia tenha muito maior garantia para, em caso de necessidade, o valor de venda de um imóvel possa cobrir o valor do seu financiamento.

Pensar que, porque alguns imóveis estão a atingir valores surpreendentes, a “bolha” deve estar à porta, parece-me uma perspetiva muito simplista e muito desajustada da realidade.

Desde logo porque seria importante maior consciência de que Portugal tem 308 municípios e dificilmente identificamos mais de uma dúzia que se encontre sujeito a grande pressão pela procura de imóveis e consequentemente de preço.

A pressão de preços no Chiado ou na Foz do Douro “não cria bolhas” em Moimenta da Beira.

A pressão de preços na Comporta ou na Quinta do Lago não só não cria bolhas em lado nenhum, como cria significativo número de postos de trabalhos, receitas fiscais e movimentos financeiros para a economia nacional.

A ideia de uma bolha que um dia explode fazendo estragos, nada tem de bom, termos um conjunto de entidades financeiras cuja operação seja caracterizada pela prudência e transparência é essencial.

Quando num determinado local, os preços sobem muito, chegando a uma altura em que deixa de haver interessados, não explodem, baixam ou então não se vende.

Quando num outro determinado local, os preços sobem muito e os interessados continuam a querer comprar, os preços não explodem, sobem.

Quando por via da edificação ou reabilitação há um dia em que a oferta se mostra significativa, os preços não explodem, baixam.

Quando um dia o acesso ao crédito for mais difícil ou mais caro e por isso houver uma redução na procura, os preços não rebentam, baixam.

Talvez seja interessante não associar tanta terminologia bélica ao mercado imobiliário. É um mercado onde todos vamos quando queremos vender um imóvel. É também por lá que encontramos soluções, cada vez mais caracterizadas por enorme diversidade e excelentes perspetivas de valorização.