Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

É bom viver na cidade, mas...

26/01/2022

Por tudo isso e seguramente por muito mais, os grandes centros urbanos têm sido a escolha de parte muito significativa da nossa população que aí organizou, estruturou e desenvolveu as suas vidas.

Séculos, décadas, anos passados de procura pelos grandes centros urbanos, tem levado a que, em muitos deles, comprar um imóvel seja muito caro.

Diria mesmo demasiado caro, para aquilo que é a relação entre o preço e os rendimentos da generalidade das pessoas.

Claro que estamos a chamar de Grandes Centros Urbanos, localidades que têm dimensões totalmente diversificadas, Mogadouro é um importante centro para algumas das Aldeias do Concelho, Bragança é muito relevante para tantos Municípios do seu Distrito, Lisboa, Porto, Coimbra e Faro, são cidades de referência nacional, Lisboa e Porto são simultaneamente entre tantas outras, mundialmente famosas. E daí resulta para cada uma, um determinado preço para as casinhas que lá estão.

Acresce o facto de que, quer em Lisboa quer no Mogadouro, não é possível repor stock de imóveis à medida que vão sendo “absorvidos”, uma das diferenças do mercado das casas, é que ao contrário de tantos outros mercados, neste, a reposição de stock é muito lenta e por vezes não é mesmo possível, consequência? O preço sobe.

Desejavelmente, essa subida deveria acompanhar o desenvolvimento dos rendimentos da generalidade das pessoas, o que em alguns locais, como Lisboa ou Porto entre outros, claramente não aconteceu.

Ser “mundialmente famoso” tem um lado seguramente interessante, no entanto há outros que previsivelmente nada têm de fantástico.

Quando a procura é alta, a oferta escassa, os Bancos com “vontade” de financiar, os juros historicamente baixos, muitos dos interessados oriundos de economias mais robustas…a “tempestade perfeita” emerge.

Por um lado, deixa parte muito significativa da população sem possibilidade de dar continuidade ao desejo antigo de estruturar a sua vida num grande centro urbano, por outro deixa os agentes económicos que por lá atuam, contentes com o desenvolvimento que essas economias locais estão a ter.

É aqui que surge a necessidade do Estado, do Governo, das Autarquias assumirem o seu papel no cumprimento de um importante desígnio constitucional e encontrarem programas, incentivos, apoios, soluções, que tenham a capacidade de não excluir aqueles que querem, ou precisam, ou desejam viver num grande centro urbano.

No entanto, talvez seja igualmente interessante refletir no facto de que também existe vida fora dos grandes centros urbanos.

Deduzido das suas quatro maiores cidades, Portugal tem 305 municípios, onde não falta uma escola, um centro médico, internet, uma igreja, uma farmácia, comércio local, um centro de dia, apoio domiciliário, entre tantos e tantos outros serviços.

Por lá existe maior acesso à possibilidade de estruturar um modelo de vida mais próximo de princípios cada vez mais relevantes como a sustentabilidade, a qualidade alimentar, a qualidade do ar, etc.

Estamos a assistir a novos fluxos de procura imobiliária, em inúmeros concelhos, com grande impacto nas economias locais, provavelmente também a pandemia teve e está a ter um efeito acelerador associado ao aumento de postos de trabalho em regime de “home office”.

De facto a tão falada pressão de preços nas famosas cidades, está a gerar novas oportunidades em tantas e fabulosas localidades do nosso País.

Está também a contribuir para que as famílias possam aceder a casas maiores, com mais espaço,… Seria mesmo fantástico se daí resultasse algum crescimento da nossa população.