Manuel Reis Campos
Manuel Reis Campos
Presidente da CPCI e da AICCOPN

Capacitação da Construção é prioridade para a retoma

06/05/2020

Por isso, assume um papel determinante neste momento muito particular que estamos a atravessar. Trata-se de uma oportunidade para reinventar o tecido empresarial com o impulso e o investimento que todos os países estão a identificar como prioritários, e as empresas podem tornar-se nas especialistas da transformação e adaptação do mundo físico que se pretende ligado ao digital.

Atento a estes objetivos e ao nosso papel no ecossistema Europeu, é necessária uma estratégia de investimento sincronizada com o processo de formação profissional. Os investimentos públicos em infraestruturas (portos, aeroportos, ferrovia, estradas, redes energia, telecomunicações, e parques industriais) devem ter como pano de fundo este grande propósito e tratando-se de projetos com escala, alongados no tempo e associados tradicionalmente a décadas de operação e manutenção, faz ainda mais sentido que a sua construção seja levada a cabo por profissionais nacionais.

No entanto, o cronograma de investimentos deve levar em consideração as competências atuais dos profissionais que têm que existir em quantidade suficiente, razão pela qual urge iniciar o seu processo de formação num espaço de tempo suficiente para o “re-tooling” das empresas e para a criação e adaptação das competências dos seus profissionais.

Não são necessárias novas escolas, apenas a adaptação e criação de “novos” programas de formação em alinhamento com os objetivos de investimento. O desajustamento atual da formação profissional às necessidades do mundo do trabalho, é um dos principais entraves ao crescimento do Setor e da capacidade produtiva nacional e tem de ser ultrapassado. O Setor da Construção tem uma longa tradição de ensino e dois grandes Centros de Formação Profissional – o CICCOPN e o CENFIC, que são duas escolas profissionais de excelência que devem ser trazidas novamente para o contexto da formação profissional do Setor, área onde nasceram e de onde nunca poderiam ter descentrado a sua atividade.

A par destas novas competências, é necessário alterar o próprio sistema de registo e competências dos profissionais. É fundamental alterar o paradigma do nosso sistema profissional. Já não falamos de “funções” e categorias profissionais que definem a sua carreira. O profissional do futuro não se distingue pelo título no seu recibo e no contrato de trabalho, porque hoje aparecem novas competências a um ritmo sem precedentes, razão pela qual é necessário um novo “sistema” de qualificações mais adequado a esta realidade. O sistema de CAP (certificados de competência profissional) que foi abandonado deve ser recuperado, reconfigurado e alargado ao conjunto de competências necessários para o futuro da indústria.

Todos os países vão fazer investimento público para reiniciar a economia, mas os pacotes de incentivo e estímulo, são isso mesmo, um estímulo. Vão ser curtos no tempo em comparação com o efeito duradouro das alterações de hábitos que estamos a assistir. Assim, depois do incentivo à economia através do investimento público, as empresas e as pessoas devem ficar capacitadas para dar continuidade ao processo, num ciclo virtuoso alimentado pela própria economia.