Hugo Santos Ferreira
Hugo Santos Ferreira
Presidente da APPII

Os centros comerciais encabeçam a retoma do retalho

29/09/2021

Este é um setor que desde muito cedo se soube organizar. Iniciou-se na década de 80 e cresceu de forma profissional, levando à sua afirmação e consolidação como uma indústria altamente organizada, sendo reconhecido como um exemplo e um case study mundial.

Durante este mais de ano e meio de Pandemia, os centros comerciais não tiveram razões para sorrir. Para além dos efeitos sanitários e pandémicos, este foi um dos sectores, a par do turismo, mais afetados

Foi ainda aquele que nenhuma ajuda teve por parte do Estado.

Foi também o único setor forçado a substituir-se ao Estado e suportar apoios determinados e da responsabilidade do próprio Estado. Assistiu incrédulo a uma das mais graves e severas ingerências do Estado, inédita na União Europeia e que criou um clima de incerteza em Portugal como destino de investimento, com danos reputacionais, que foram duramente criticados em todo o mundo e que não serão esquecidos. Assistiu também à criação de leis inconstitucionais, atentatórias da proporcionalidade e da igualdade e em clara violação da propriedade privada e da iniciativa económica, como reconheceu a Provedora de Justiça.

Mas o que lá vai lá vai e o mais importante é o futuro.

Sendo das indústrias mais avançadas, sofisticadas e profissionalizadas do mundo (note-se o facto curioso de ter sido o primeiro sector a profissionalizar e dotar de mecanismos altamente eficientes a gestão de condomínios), foi das primeiras a dar passos na contenção dos riscos de propagação do vírus de Covid-19 e a organizar-se para fazer face uma nova realidade, que ninguém conhecia. E tudo porque estavam absolutamente preparados para, de um momento para o outro, serem também eles um verdadeiro agente de saúde pública. Veja-se que, mesmo nos períodos de abertura, nunca houve um único foco de contágio significativo, registado de norte a sul, em nenhum centro comercial do nosso País.

E mais, muitos centros comerciais, mesmo com a larga maioria das lojas fechadas, mas com algumas lojas abertas, como farmácias, parafarmácias e nalguns momentos os restaurantes em takeaway, não fecharam as suas portas, quando todo o resto do País e do Mundo estava em lockdown,

Mas, insisto, não foi por isso que estes investidores e proprietários mandaram fechar as portas dos seus centros comerciais, permitindo assim aos cidadãos continuar a aceder a medicamentos, alimentação e outros bens e serviços essenciais.

Não esquecer ainda as preocupações sociais e altruístas demonstradas ao disponibilizar, aquando do início do processo de vacinação, os espaços dos centros comerciais e retail parks, para criar massivos centros de vacinação. Que outros sectores privados o fizeram de forma voluntária?

Vejo agora mais recentemente, com igual regozijo, que também um centro comercial em La Palma, doou mais de 30 toneladas de alimentos e equipamento às pessoas afetadas pela erupção do vulcão em Cumbre Vieja de la Palma. De facto, os investidores e proprietários de centros comerciais provam, todos os dias e uma mais uma vez, desta feita noutras latitudes e em diferentes calamidades, que são empresários responsáveis, preocupados e solidários, além de importantes agentes de saúde pública. Tem-se passado assim em Portugal com a Pandemia de Covid-19 e agora em La Palma com a catástrofe vulcânica.

Volto ao início, olhos postos no futuro e na retoma deste sector. Há que deixar o discurso fácil, que pode ter valido em Pandemia, mas que agora com a recuperação das atividades já não faz o menor sentido, para recolocar, todos juntos e unidos como sempre aconteceu neste sector, o retalho no caminho da retoma e do crescimento de uma cadeia de valor que sempre soube gerar e manter riqueza e postos de trabalho, de forma autónoma e equitativa entre todos os seus stakeholders.

Os Centros Comerciais foram, são e sempre serão atores incontornáveis e fundamentais na retoma do retalho, desempenhando um papel essencial e insubstituível na afirmação e desenvolvimento económico e social das comunidades onde se inserem, mas também no desenvolvimento e inovação dos seus lojistas.

Os Centros Comerciais foram “a porta de entrada” de muitas marcas em Portugal, bem como os locais elegidos para muitas marcas desenvolverem e testarem novos conceitos.

É este papel que sempre desempenharam com elevado sentido de responsabilidade e missão que nos assegurou um papel determinante na economia nacional e que vamos continuar a desempenhar de forma determinada.