Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Por centros urbanos mais inclusivos

22/11/2023

Esta semana, o Observatório da Habitação, do Arrendamento e da Reabilitação Urbana (OHARU) apresentou-nos os resultados do primeiro “Relatório sobre o Arrendamento Habitacional em Portugal”, que revelaram que 80% dos inquilinos com contratos antigos no País têm mais de 70 anos. Que estes números não nos espantem, mas saibam conduzir à ação, porque é altura de começarmos a falar sobre novos modelos de utilização habitacional.

Em particular, urge repensar estas estruturas nos grandes centros urbanos, porque todos sabemos que tem grande expressão o número de agregados familiares compostos por um casal, ou uma pessoa idosa, com mais de 80 anos, e todas as limitações que pode implicar o seu modelo de vida nesta idade avançada. Quantas e quantas pessoas não estão, de alguma forma, aprisionadas a segundos, terceiros e quartos andares, sem elevador, com enormes dificuldades de mobilidade? Quantas pessoas não estão imersas numa profunda solidão por estarem sós num grande centro urbano, muitas vezes numa casa que, 50 anos antes, estava dimensionada para determinado agregado familiar, e volvidas várias décadas, não é mais do que uma estrutura habitacional profundamente desadequada e possivelmente castradora de uma vida mais confortável?

Talvez seja altura de, à semelhança de algumas experiências que têm sido feitas no Norte da Europa, começarmos a procurar modelos mais inclusivos para as pessoas idosas, e que precisam de outra estrutura de habitação. Nestas experiências, jovens ou casais em inícios de vida candidatam-se a serem inquilinos destes imóveis, em condições muito vantajosas, coabitando com os seus utilizadores. Assim, simultaneamente, estes novos inquilinos permitirão a quem já vive no imóvel superar dificuldades associadas à sua condição. Outra das apostas, e que poderá responder a esta necessidade, é a construção de habitações colaborativas sociais, que começamos já a ver surgir em alguns pontos do País, e em alguns casos, com o apoio de fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

A escassez de oferta não é um problema nacional, é um problema global, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Se queremos garantir uma oferta justa, e acima de tudo inclusiva, é urgente que se abra espaço de reflexão sobre novos modelos de utilização do espaço habitacional. Porque saber cuidar dos mais velhos é saber cuidar dos nossos.