Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Claro que vivemos tempos difíceis!

12/10/2022

Nessa perspetiva, sujeito a constantes análises, interpretações, extrapolações, projeções entre tantos e tantos outros fatores analíticos.

Todos relevantes - uns mais que outros - merecedores do interesse e atenção da generalidade das pessoas, que independentemente dos seus conhecimentos, das localizações onde se desenrolam as suas vidas, do “volume do seu bolso”, de algum modo é de casas, de terras, de lojas, de escritórios que se trata e obviamente a todos importa.

Acontece, se calhar para desalento de alguns, que as casas, as terras e as edificações fazem parte de um mercado que realmente é diferente de todos os outros.

Desde logo por ser o mercado dos bens imóveis, ou seja, não os podemos retirar do sítio onde estão. Podemos quando muito reedificar, remodelar, ampliar, transformar, mas o que quer que seja feito, continuaremos no mesmo sítio porque determinada terra independentemente do que nela está edificado em certa altura, é imóvel.

A imobilidade dos ativos imobiliários é o mais relevante fator pela consistência do seu valor e, no caso do nosso País essa expressão de consistência tem sido especialmente evidente.

Nos últimos 50 anos todos os imóveis existentes em Portugal valorizaram-se mais que qualquer outro tipo de bem transacionável. Nesse período duas ocasiões existiram em que de modo generalizado os imóveis perderam valor. Em Abril de 74 e em 2010. Quer num caso quer no outro cerca de 24 meses depois a generalidade dos imóveis estava a valorizar-se.

É claro que estamos a viver tempos carregados de dúvidas, de receios, de fatores que não controlamos e que terão impacto na economia do nosso País.

E também será previsível que o mercado imobiliário seja muito mais resistente no que diz respeito à sua consistência de valor do que o que poderá acontecer em tantos outros setores.

Se assim for será seguramente bom para todos os Portugueses.

No âmbito do imobiliário, fico muito surpreendido com alguma avidez na procura da desgraça com que frequentemente nos deparamos.

Seria como se ao procurarmos saber como está um familiar nosso, ou como encara os próximos tempos tentássemos saber se:

Está preparado para a cadeirinha de rodas;

ou já pensou o que fazer quando ficar desempregado;

ou …

É claro que temos tempos de grande incerteza e que terão grande impacto negativo na nossa economia; é claro que o aumento do custo de vida e da inflação em muitas famílias vai ter consequências más.

E também é verdade que o volume financeiro que anualmente é transacionado em Portugal no setor imobiliário, cerca de 33.000 milhões de euros, mais de 12,5 % do PIB Nacional em 2021 teve uma intervenção da Banca Nacional (15.000 milhões de euros) inferior a 50% do volume transacionado.

Não porque estava tudo cheio de dinheiro, mas sim porque 87% dos imóveis transacionados eram usados, ou seja, as pessoas utilizam os proveitos restantes de uma venda para adquirir a sua outra casa.

Quando alguém comprou um imóvel há 20 anos por 100.000 euros e hoje o vende por 280.000 euros, que bom, fantástico e que dê bom destino aos 180.000 euros (brutos) que ganhou, parabéns.

Nada fez de errado, muito pelo contrário seguramente a decisão de comprar essa casa há 20 anos por 100.000 não foi fácil e muitas vezes exigiu enormes sacrifícios.

Que bom que as casas se têm valorizado em Portugal.

Que bom termos tantos cidadãos estrangeiros a quererem investir no nosso País, fazendo crescer a nossa economia, criando novos postos de trabalho, pagando impostos em Portugal, nem que seja o IVA do pastel de nata.

Nota: a nossa constituição no seu artigo 65 é muito clara acerca da obrigação do nosso Estado em assegurar que ninguém fica sem uma casa digna, mais do que nunca será fundamental que o nosso Estado possa ajudar todos os que dela precisem.