Leonor Magalhães
Leonor Magalhães
Associada WIRE e Executive Director e Marketing da Bondstone

O cliente no comando da transformação do setor imobiliário.

23/10/2024

Burocracia; legislação; carga fiscal. O setor imobiliário tem sido historicamente desafiado, mas o verdadeiro catalisador da mudança é, indiscutivelmente, o cliente. Porquê? É simples. Num mercado altamente competitivo, o cliente é quem tem o poder da transformação. 

O foco crescente nas necessidades e preferências do cliente tem tido um grande impacto em todas as fases de um projeto – desde o conceito e arquitetura até à construção, comercialização e pós-venda. Nos últimos anos, estas expetativas evoluíram muito. A pandemia não só acelerou esta mudança, como redefiniu o que o cliente valoriza numa casa. Adicionalmente, a crescente comunidade estrangeira em Portugal introduziu novos padrões de exigência. Essa influência, aliada às mudanças pós-pandemia, está na origem da transformação das preferências do cliente.

A proximidade com a natureza tornou-se uma prioridade. Hoje, o cliente prefere casas com terraços, varandas ou jardins, o que veio alterar a forma como avaliamos a localização. Esta mudança desencadeou uma autêntica revolução geográfica no mercado: áreas suburbanas e rurais surgem agora como opções preferenciais, principalmente entre quem pode gerir o trabalho com flexibilidade. Os novos modelos de trabalho criaram necessidades nas nossas casas, que já não servem apenas para descansar e conviver, mas também para trabalhar. Esta nova experiência de utilização impactou o design, que agora privilegia a multifuncionalidade dos espaços. Não só a forma como vivemos as nossas casas é mais intensa, como os clientes estão mais exigentes, informados e interessados em projetos que permitam personalização e envolvimento direto no processo de criação dos espaços.

Todos nós sentimos o impacto da evolução da tecnologia nas nossas rotinas, que veio também revolucionar a interação dos clientes com as suas casas. Através da integração de soluções de automação, que promovem uma melhor experiência de uso e conforto, mais segurança e melhor eficiência energética, as casas de hoje respondem a uma necessidade crescente de integração de bem-estar e sustentabilidade. Assistimos à reinvenção do luxo – o cliente está cada vez mais atento ao impacto ambiental das suas escolhas. A incorporação de práticas sustentáveis, que reduzem a pegada de carbono, minimizam o consumo de recursos naturais e promovem eficiência energética, já não pode ser apenas um fator de posicionamento, mas sim um compromisso transversal a todas as fases do projeto.

Também a forma como cliente vive a sua casa mudou. Atualmente, procura centralizar, num único espaço, várias atividades que antes exigiam deslocações. O mercado residencial passou a integrar nos projetos amenities e serviços que, até há poucos anos, eram exclusivos de marcas de hotelaria. De salientar o sucesso das branded residences no segmento de luxo, que têm vindo a crescer de forma acentuada.

Em suma, estamos a testemunhar uma transformação profunda no mercado imobiliário. O cliente não é apenas um comprador; é o motor da inovação e da mudança. As empresas que compreenderem esta nova dinâmica não estarão apenas a construir casas, estarão a promover uma experiência de vida capaz de criar novos lugares e atrair clientes de todo o mundo.