Manuel Reis Campos
Manuel Reis Campos
Presidente da CPCI e da AICCOPN

Construção precisa urgentemente de mão de obra qualificada

01/09/2021

Porém, os dados relativos à evolução do emprego no Setor da Construção e do Imobiliário, apesar de apresentarem, globalmente, uma recuperação face aos níveis verificados antes da eclosão do surto pandémico, continuam aquém do esperado, sobretudo numa atividade em que se identifica a falta de mais de 70 mil trabalhadores.

Efetivamente, as empresas apontam a falta de mão-de-obra qualificada como o seu principal constrangimento. E isto ocorre porque existe, como temos afirmado, um profundo desajustamento entre a procura e a oferta de trabalho, que resulta, em larga medida, do facto de, ao longo dos últimos anos, termos assistido a um desvirtuamento da Formação Profissional, que se foi afastando cada vez mais do mercado de trabalho, subjugada a uma política de educação alheada das efetivas necessidades das empresas e incapaz de antecipar as tendências de futuro.

O País não pode assistir, por um lado, à persistência de níveis de desemprego muito acima do desejável e, por outro, a dificuldades perante a falta de recursos humanos nas empresas. A solução passa pelo apoio à qualificação do tecido empresarial e, em particular, pela reorientação da formação profissional, tirando partido dos centros de formação de excelência do Setor: o CICCOPN e o CENFIC.

Estamos perante uma oportunidade para o desenvolvimento da formação no Setor, potenciando a captação dos jovens e oferecendo a possibilidade de reconversão aos desempregados dos setores mais afetados pela pandemia, reposicionando-os no mercado de trabalho. Uma outra vertente de atuação importante é a promoção da mobilidade transnacional da mão-de-obra, ou seja, permitir às empresas internacionalizadas fazer uma gestão mais dinâmica e eficiente dos seus recursos humanos e em especial dos trabalhadores que integram os seus quadros nos mercados externos.

O grande problema continua a ser o desajustamento entre as qualificações que são necessárias por parte do mercado de trabalho e aquelas que são detidas por quem procura emprego. Estamos, nomeadamente, a falar de atividades especializadas de construção e recordo que há um conjunto de investimentos de proximidade em curso, como a retirada do amianto das escolas, a conservação da rede rodoviária e ferroviária, a construção e requalificação de hospitais e outros equipamentos sociais, aos quais é necessário juntar o investimento estruturante que está previsto no PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, o qual, a exemplo da restante Europa, coloca o Setor num papel essencial. É esperado um crescimento sustentado ao longo dos próximos anos e que exigem profissionais com perfis técnicos ajustados. As empresas precisam destes trabalhadores e o País tem de tirar partido desta oportunidade de reforçar a competitividade do tecido empresarial e gerar emprego sustentável e com perspetivas de futuro.