Nelson Lage
Nelson Lage
Presidente da ADENE

Construção sustentável: O caminho para um futuro resiliente e competitivo

12/02/2025

A inovação nos materiais e as novas dinâmicas do mercado estão a redefinir a forma de construir, mas a transição não está isenta de desafios. O elevado custo inicial, a dispersão normativa e a escassez de mão de obra qualificada continuam a dificultar a adoção de práticas mais sustentáveis. No entanto, com políticas públicas adequadas, investimento estratégico e uma maior colaboração entre os diferentes agentes do setor, a construção sustentável pode tornar-se o pilar de um futuro mais resiliente, competitivo e alinhado com os objetivos climáticos.

O primeiro grande obstáculo é o custo inicial. O investimento em materiais e tecnologias sustentáveis continua a ser elevado, desencorajando promotores e investidores, apesar das possíveis poupanças a longo prazo. Para ultrapassar esta barreira, são essenciais incentivos financeiros, como subsídios, benefícios fiscais e parcerias público-privadas. Além disso, o apoio à investigação e desenvolvimento de novos materiais pode ter um impacto significativo na redução de custos a médio e longo prazo.

A dispersão normativa é outro entrave. A falta de normas harmonizadas entre países gera incerteza e atrasa a adoção generalizada de práticas de construção sustentável. Um quadro regulatório coerente facilitaria a implementação de projetos sustentáveis em larga escala, minimizando atrasos nos processos de licenciamento e incentivando a inovação.

Além disso, a escassez de profissionais qualificados é um desafio crescente. A construção sustentável exige competências especializadas que ainda não estão suficientemente disseminadas no setor. Sem uma força de trabalho preparada, a transição para uma construção mais ecológica será difícil de concretizar. Investir na formação e requalificação profissional é, por isso, um passo essencial para garantir que o setor tem os recursos humanos necessários para responder às exigências de um modelo de construção mais sustentável.

O acesso ao financiamento verde é outra barreira crítica. Muitos projetos não cumprem os critérios necessários para obter certificações ambientais ou integrar princípios da economia circular, o que limita o acesso a capitais e dificulta a realização de investimentos sustentáveis. Uma abordagem estruturada, que garanta condições adequadas para que os promotores consigam cumprir os requisitos ambientais, será determinante para desbloquear o potencial do setor.

Apesar destes desafios, já existem exemplos concretos de projetos que demonstram a viabilidade e o impacto positivo da construção sustentável. Em Portugal, a Vanguard Properties tem aplicado técnicas inovadoras de construção em madeira em empreendimentos como Terras da Comporta e Muda Reserve, provando que a inovação e a responsabilidade ecológica podem coexistir. Estas iniciativas mostram como tecnologias como Timber-Hybrid e CLT (Cross Laminated Timber) podem reduzir a pegada ambiental e, ao mesmo tempo, dinamizar as economias locais. Por sua vez o Grupo Casais tem feito uma aposta na construção industrializada promovendo a sustentabilidade, a eficiência e a redução do impacto ambiental.

A nível internacional, edifícios como o HAUT Building, nos Países Baixos, e o Mjøstårnet, na Noruega, demonstram o potencial destas soluções, ao aliarem eficiência energética, inovação e sustentabilidade. Estes exemplos provam que materiais como o CLT não só contribuem para edifícios mais eficientes, como também ajudam a revitalizar o setor florestal.

Mas a construção sustentável não é apenas uma questão ambiental. Também representa uma oportunidade económica e social. Estudos indicam que os edifícios sustentáveis têm uma valorização superior no mercado — um relatório da McKinsey estima que os preços de venda podem ser 10% mais elevados do que os dos edifícios convencionais. Além disso, a redução dos custos operacionais é significativa, com edifícios energeticamente eficientes a apresentarem menores despesas com consumos energéticos ao longo do tempo.

A qualidade de vida urbana também beneficia deste modelo de construção. A criação de espaços verdes, a melhoria da qualidade do ar e a maior eficiência térmica das habitações contribuem para cidades mais habitáveis e resilientes. Para consolidar esta transformação, é essencial apostar em materiais de baixo carbono, como o CLT, e em soluções circulares, como a reciclagem de resíduos de construção, garantindo um menor impacto ambiental em todas as fases do ciclo de vida dos edifícios.

A mudança já está em curso e está a ser impulsionada por empresas que integram a sustentabilidade no seu modelo de negócio. Promotores imobiliários, gabinetes de arquitetura e investidores que adotam princípios da economia circular estão a demonstrar que é possível construir de forma sustentável sem comprometer a viabilidade económica dos projetos.

A sustentabilidade na construção já não é apenas um dever ambiental. É também um fator de competitividade e rentabilidade a longo prazo. Construir de forma sustentável é a única forma de garantir um futuro mais resiliente, eficiente e inovador. O setor da construção tem agora a oportunidade — e a responsabilidade — de liderar esta transformação, criando cidades mais inteligentes, eficientes e sustentáveis. O futuro sustentável constrói-se hoje.