De entre todos os assuntos em cima da mesa, sem dúvida que, na minha ótica, o mais premente é o da sustentabilidade e da necessidade de construir habitação sustentável a preços mais acessíveis.
Porque, vejamos, em Portugal pouco se fala das condições em que os portugueses habitam… É uma realidade pouco presente, e por vezes parece ser considerada um estigma, mas chamemos as coisas pelos nomes: a pobreza energética é uma realidade em grande parte das casas portuguesas.
Ora vamos então a factos concretos: “Estima-se que mais de 34 milhões de pessoas em toda a União Europeia vivam em diferentes níveis de pobreza energética. Portugal é, segundo as estatísticas europeias, um dos piores países europeus nesta matéria”, pode ler-se na introdução do estudo realizado em parceria pelas agências Lisboa E-Nova, Agência de Energia e Ambiente de Lisboa e a AdEPorto, Agência de Energia do Porto, que resulta do inquérito realizado nos anos 2021-2022.
Acrescentando ainda o mesmo estudo que “segundo estimativas avançadas pela Estratégia Nacional de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética 2021-2050, entre 1,2 e 2,3 milhões de portugueses vivem em situação de pobreza energética moderada e entre 660 e 740 mil pessoas encontram-se numa situação de pobreza energética extrema”.
As razões apontadas para esta realidade são também elas muito relevantes no panorama nacional e centram-se nos baixos rendimentos, edifícios pouco eficientes, custos elevados de energia e, por último, mas não menos importante, a baixa literacia energética, conforme explana o estudo.
Importa dizer que a preocupação pela sustentabilidade e eficiência energética dos edifícios está em tendência crescente no nosso país, mas ainda caminha a passos muito lentos. Existem projetos muito interessantes focados nestas premissas, mas será que estamos a construir habitação com maior eficiência energética acessível a famílias com baixos rendimentos? Será que estamos a avançar de forma célere na descarbonização do setor?
Estes dados não deixam margem para dúvidas, a questão é muito simples: os portugueses vivem em condições energéticas face à restante Europa que nos deviam envergonhar.
Urge olharmos para estas questões com um olhar mais estrutural e profundo, só assim poderemos resolver este flagelo que afeta grande parte dos portugueses, que a par de uma enorme crise de habitação, são confrontados com fraca qualidade e baixa eficiência energética das suas habitações.
Todos queremos contribuir para resolver o problema da habitação em Portugal, há que olhar para o tema de forma mais aberta, global, a longo prazo, mas acima de tudo sem preconceitos. Os dados contextualizam-nos os problemas, há que arregaçar as mangas e pôr mãos-à-obra! É urgente construir mais casas que os portugueses possam pagar e que sejam energeticamente eficientes.
Termino com uma reflexão: É importante pensarmos se queremos construção sustentável a preços acessíveis ou se vamos continuar a perpetuar a pobreza energética.