Os minutos de caos resumem simbolicamente décadas da nossa inação. São o reflexo perfeito do planeta que deixamos queimar. Sim, podemos continuar a discutir metas e compromissos voluntários, mas o planeta não espera. As alterações climáticas avançam como uma onda que devasta tudo desde a tundra polar às savanas africanas, das metrópoles à beira-mar às aldeias escondidas na floresta, tocando cada árvore, cada rio, cada casa. O fogo, a água, o vento e o calor não escolhem regiões quando espalham o caos e o sofrimento, mas ligam continentes como se o planeta inteiro vivesse sob a mesma tempestade.
Belém deveria ser o ponto de viragem. Às portas da Amazónia, parecia o palco ideal para que o mundo assumisse, com voz firme e real compromisso, que a era dos combustíveis fósseis tem data marcada para terminar. Em vez disso, saiu do Brasil um acordo minimalista, um pacote “possível” que alguns celebram como sinal de que o multilateralismo existe, mas que na prática deixa o clima à beira do colapso.
Sim, houve avanços. A adaptação ganhou métricas globais, foi anunciada a meta de triplicar o financiamento até 2035, mobilizando cerca de 1,2 biliões de euros por ano para apoiar os países vulneráveis, e surgiram mecanismos para uma transição justa. São progressos que merecem reconhecimento. Mas são passos num caminho em declive acentuado. Cada ano perdido torna o próximo mais íngreme, aproximando-nos do ponto sem retorno.
Enquanto a Blue Zone ardia, o poder dos lobbies espalhava-se. Empresas de petróleo, gás e carvão, países produtores de fósseis e fundos que financiam energia poluente pressionavam cada linha do texto final. No encerramento da COP, surgiram os habituais discursos fortes, anúncios relevantes e avanços importantes em adaptação e financiamento, mas mais uma vez faltou coragem GLOBAL para enfrentar a raiz do incêndio global, a dependência dos combustíveis fósseis. A decisão que poderia salvar milhões de vidas e ecossistemas foi trocada por frases vazias e roadmaps voluntários.
Durante vários dias, o mundo viu Belém ganhar protagonismo, ouviu os lamentos dos povos indígenas, os alertas dos cientistas, os apelos dos jovens e as promessas dos líderes internacionais. Mas também percebeu que, quando chega a hora de assumir compromissos vinculativos, a temperatura política sobe e o consenso esfria. “Estamos a fracassar em limitar o aquecimento a 1,5°C”, gritou António Guterres. O seu alerta perdeu-se no vento.
O balanço da COP30 revela ausência de obrigações, nenhum abalo nos grandes emissores e nenhum sinal de que este planeta sufocado por fumo e calor seja prioridade. Terminou mais uma COP a provar que os interesses corporativos continuam a bloquear a ação climática, enquanto o mundo continua a arder como se ignorássemos o fogo que já nos alcança.
Agora, não é tempo de esperar. É tempo de agir. Alguém, tem de apagar o incêndio.



