Nelson Lage
Nelson Lage
Presidente da ADENE

A cronologia para os edifícios do futuro

01/06/2022

Cada vez mais o cidadão está consciente para a temática da preservação do planeta e da sustentabilidade, para além da parte financeira, e por isso a eficiência energética das nossas casas está na ordem do dia.

Os edifícios do futuro estão hoje a ser desenhados com uma proposta de diretiva anunciada em dezembro último pela Comissão Europeia e que se encontra atualmente em fase de discussão. Não se trata daqueles edifícios megalómanos e futuristas que vemos nos filmes de ficção científica, mas sim edifícios sustentáveis, amigos do ambiente e que permitam ao cidadão viver em conforto na sua casa. O caminho já começou a ser traçado, mas ainda tem muito para ser trilhado nos próximos anos.

A primeira data a reter é 2027, que já espreita no horizonte, com o reescalonamento das classes energéticas de A a G. À semelhança dos eletrodomésticos, é agora a vez dos edifícios harmonizarem a sua escala de desempenho energético. A partir desta data, os edifícios mais ineficientes (Classe G e Classe F) passarão a ter que melhorar o seu desempenho, algo que acontecerá gradualmente começando pelos edifícios públicos e não-residenciais e terminando nos residenciais. Esta melhoria, que pretende retirar os edifícios situados nas 2 últimas classes de desempenho, deverá estar completa até 2033, com um patamar intermédio de 2030, e insere-se num novo requisito de Padrões Mínimos de Desempenho Energético. Esta é apenas uma das estratégias inseridas no âmbito de um vasto plano de renovação de um parque imobiliário que para além dos momentos chave antes referidos (2027 /2030/2033) prepara o terreno para que Portugal possa atingir, em 2050, o objetivo de descarbonização, altura em que todos os edifícios serão de classe A, ou seja, ZEB (zero emission buildings).

Surge assim o novo conceito de edifício ZEB, um edifício com zero emissões de carbono provenientes de combustíveis fósseis no local. Este novo standard também se aplicará aos edifícios novos já a partir de 2027. Os novos edifícios públicos deverão ser ZEB para que em 2030 todos os edifícios novos também o sejam.

Para apoiar a transformação dos edifícios, será igualmente introduzido um Passaporte de Renovação do edifício, o qual contempla um roteiro adaptado para a renovação desse edifício em várias etapas que melhorarão significativamente o desempenho energético. Tenho de sublinhar a importância destes passaportes de renovação, que serão adotados pelos Estados-Membros até ao fim de 2025, como peça crucial para o financiamento.

A acompanhar esta evolução dos edifícios para edifícios de emissões nulas até 2050, também iremos assistir a uma passagem de testemunho da Estratégia de Longo Prazo dos Edifícios (ELPRE) para um Plano Nacional de Renovação dos Edifícios (PNRE). Como sabemos os Estados-Membros desenvolveram estratégias de longo prazo para a renovação dos edifícios até 2050 sendo que a futura diretiva reforça a sua atualização para os PNRE, cujos principais objetivos são: edifícios energeticamente eficientes; descarbonização do parque edificado e transformar edifícios existentes em edifícios ZEB. De realçar que a estrutura de PNRE será harmonizada entre os Estados-Membros, o que nos permitirá ter de compreender melhor as abordagens em todos os Estados-Membros, sem perder as particularidades e contextos de cada um.

Nesta cronologia para os edifícios do futuro, serão introduzidas mais novidades que reforçarão o papel das tecnologias inteligentes nos edifícios, o reforço e a interligação com o carregamento de veículos elétricos, em complemento aos pontos mais importantes, como a melhoria do conforto dos ocupantes dos edifícios criando assim locais que promovam o bem-estar e a saúde, aliados a um novo paradigma em que a sustentabilidade, conforto e a segurança são a regra e não a exceção.

A sustentabilidade do planeta está, e continuará a estar, na agenda mediática. Que todos saibamos dar esses passos de mudança e que reforcemos o nosso compromisso com o nosso futuro. Todos. Um compromisso baseado no diálogo, na coloração, onde a aposta no parque edificado ocupa um lugar de destaque e com o cidadão no centro da decisão. Um compromisso que nos manterá no caminho da descarbonização da economia e da transição energética, onde a qualidade de vida do cidadão deve ser a grande preocupação. A ADENE continuará comprometida e a apostar numa sociedade mais informada e formada.