Um dia o leão deixou de ser “querido” e “patusco” e tornou-se então um leão enorme até que, sem se saber bem porquê, “virou o dente” àqueles que dele cuidaram ao longo dos anos. Acho que quase todos nós, em certa altura, ouvimos uma história deste tipo.
Este tipo de desfecho previsível, aconteceu nos Estados Unidos, desta vez no âmbito da atividade imobiliária e da sua relação com os portais imobiliários, onde há cerca de uma década, se destacou determinado portal imobiliário por ter a capacidade de gerar muitos contatos (leads). Lá, o mercado imobiliário, durante muitos anos forneceu dados e informações aquele que era o fantástico facilitador da divulgação de imóveis na internet e também aquele que gerava mais contatos de clientes interessados.
Acontece que, sem se saber bem porquê, um dia “virou o dente” e hoje é talvez a entidade que transaciona mais imóveis no Mundo.
Felizmente, por cá, temos a sorte de conhecer atempadamente estes episódios de modo a podermos atuar de forma equilibrada e sem “feras” por perto.
A realidade é que quando alguém está a vender determinado T2 em Kathmandu no Nepal e essa informação passa a estar disponível na internet, qualquer pesquisa num dos “motores” de busca que habitualmente utilizamos, em poucos segundos nos “leva lá”.
Caso exista alguém interessado nesse T2, vai comprá-lo, independentemente da performance do portal imobiliário utilizado “lá na terra”.
Talvez seja hora de todo o setor imobiliário sacrificar um pouco o recurso a determinadas plataformas tecnológicas, achando que são ideais na geração de contatos.
Não há motivo para que todo um setor concentre informação e fabrique soluções que amanhã poderão ser utilizadas em atividade claramente concorrente.
Os portais, por agora, funcionam como um espaço confortável para pesquisas na internet. Quando conseguem atrair muitos utilizadores, tornam-se o canal preferido para obter informações.
E assim, está criada a ilusão de que sem determinado canal / portal aquela casa não teria sido vendida, pois se todos os interessados foram veiculados através do tal canal “que seria de mim sem ele”.
É absolutamente indispensável que todo o setor imobiliário reflita sobre as consequências de concentrar a informação de imóveis num ou outro portal.
Neste momento, todo o setor tem a possibilidade de não ficar dependente de plataformas integralmente alimentadas pelas imobiliárias. Plataformas que muito legitimamente procurarão desenvolver o seu modelo de negócio digital na procura da maior rentabilidade possível.
“Lá fora” as consequências estão a revelar-se caríssimas para todas as imobiliárias, “cá dentro” talvez não tenha de ser assim.