Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Os dados, os números, as informações

12/04/2023

Se por um lado, em tantos domínios das nossas vidas saltitam informações sobre absolutamente tudo, nomeadamente sobre o que de mais desinteressante conseguimos imaginar, por outro temos também informações muito relevantes e absolutamente pragmáticas, nomeadamente aquelas relativas a dados, ou a números. Essas, quando relativas a diversos aspetos das nossas vidas, pelo pragmatismo e cariz absoluto de que se revestem, são por demais importantes.

Recentemente, vários meios de comunicação social referiram que Lisboa se tinha tornado a segunda cidade mais cara da Europa, uma vez que o valor médio por metro quadrado para venda encontrava-se nos 5.753€ e o valor para arrendamento em 23€. Esta informação não é correta, dado ter por base os valores pedidos pelos proprietários e não os preços de transação finais. Acontece que, segundo o Instituto Nacional de Estatística, o valor de venda praticado em Lisboa é de 3.785€/m2 e o valor de arrendamento 14,13€/m2 (medianas).

São valores muito elevados, principalmente quando pensamos nos rendimentos médios das famílias portuguesas e seguramente resultado da tão referida escassez de oferta de imóveis.

É igualmente interessante alertar para o facto da relatividade dos números que são o resultado de médias/medianas absolutas.

Quando ouvimos dizer que em 2022 em Portugal as casas subiram 18%, mas isso significa o quê? Desde logo, não significa que a generalidade das casas tenha subido 18%. Significa antes que muitas das casas subiram muito, outras subiram pouco, várias não subiram e algumas poderão mesmo ter descido.

Para conseguirmos entender, importa saber quantas são as casas que subiram; as que subiram pouco; as várias que não subiram; as restantes que poderão ter descido e, ainda, onde estão e que características têm. Sabemos que no geral subiram 18% e, se nada mais quisermos saber, então nada mais saberemos.

Sabemos também, por exemplo, que em Lisboa as casas subiram 7%, que no concelho de Castelo Branco subiram 41%, que nas zonas históricas de Lisboa e Porto não tiveram alteração de valor, etc.

Informação excelente é, por exemplo, a que esperamos obter relativamente a quantos são os fogos que o Estado afeta do seu património à habitação, em que locais vão estar, em que momento acontecerá e qual serão os valores. É a informação que conseguiremos obter dos resultados do estudo realizado acerca do impacto dos vistos gold no mercado habitacional. Será também importante, ainda, no âmbito das novas medidas anunciadas, conhecermos qual é o objetivo quantitativo do incremento de fogos habitacionais ao mercado, em quanto tempo e qual será sua distribuição.

Sabemos que infelizmente, por vezes, nos é dada informação falsa, por outras nos é dada informação correta, mas irrelevante, e tantas vezes nos é dada excelente informação. A informação é importante, por isso todos devemos ser mais exigentes com a aquela que nos é dada e, acima de tudo, conseguirmos distingui-la, e sabermos exigir informação pragmática enquanto suporte analítico e quantitativo sobre metas e resultados das muitas coisas que nos são anunciadas.