Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Descentralização. É desta?

27/10/2021

Nos últimos 40 anos, por diversas vezes, ouvimos falar em descentralização. Quase sempre num conceito associado a normas, decretos, mudanças de centros administrativos ou outro tipo de ideias que têm por denominador comum um processo de teor burocrático.

Acontece que talvez estejamos no início de um verdadeiro processo de descentralização, pois muito mais do que qualquer teor administrativo estamos perante novas atitudes e comportamentos de muitos indivíduos da nossa sociedade.

De facto, o trabalho à distância – realidade tão acelerada pela pandemia –, além da restruturação dos processos profissionais, está a demonstrar o início do que poderá ser um verdadeiro processo de descentralização. O trabalho à distância, em certa medida, não é mais do que o culminar de um conjunto de fatores que uma vez alinhados são geradores desta tendência.

As atuais preocupações com a qualidade alimentar, o exercício físico, o tempo disponível para atividades de lazer, as atividades no campo, o cuidado com os animais, a educação de crianças num ambiente menos urbano, a preferência por habitações com mais espaço e os preços elevados das grandes cidades, uma vez alinhados são a “tempestade perfeita”, pois reúnem aspetos fundamentais para a verdadeira descentralização.

A verdade é que grande parte das vilas e aldeias portuguesas têm por perto uma escola, uma farmácia, boas vias de acessibilidade, internet, hipermercado, centro de saúde local, uma qualquer grande superfície e também uma associação recreativa – que além das festas de verão se ocupa também do apoio domiciliário aos mais frágeis e aos mais idosos. Além disso, a maior parte das vilas e aldeias têm também características de vizinhança particularmente agradáveis e enriquecedoras em termos de costumes e de conhecimento.

Portugal poderá ser descentralizado. Não por decreto, mas quando os seus habitantes elegerem as aldeias e vilas para viverem as suas vidas.

E claro, os elevados preços que se têm praticado em Lisboa e no Porto serão provavelmente os grandes catalisadores da verdadeira descentralização.