Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Desmontando argumentos

24/03/2021

Na origem desta ambição, estará o “falhanço na criação de emprego”, o facto deste programa estar “associado a práticas ilícitas como a corrupção, o peculato, o branqueamento de capitais, o tráfico de influências, entre outras” e a vontade de “pôr fim a uma das principais causas da especulação imobiliária e para acabar com um privilégio que favorece apenas alguns”.

Ao fim deste tempo todo, surpreende-me ainda a falta de visão estratégica que os partidos revelam sobre este programa e a forma populista como a ele se dirigem, com argumentos que precisam de ser desmontados:

- Dizer que os vistos gold não criam emprego é ignorar absolutamente o papel fundamental que este programa teve na recuperação do sector do imobiliário e da construção que, pasmem-se, gera emprego - e muito - no nosso País. O investimento que nos chegou por esta via permitiu reabilitar e lavar a cara dos centros das cidades, substituindo imóveis degradados que colocavam em causa a segurança pública, pela imagem daquela que é hoje o nosso postal turístico, criando emprego direto, mas também indireto: um euro investido em imobiliário é rapidamente multiplicável por quatro ou cinco, e extensível a outros sectores.

- Dizer que este programa está associado a “práticas ilícitas como a corrupção, o peculato, o branqueamento de capitais, o tráfico de influências, entre outras”, não só é alarmante como, mais que uma crítica ao programa, uma crítica ao nosso sistema judicial. Não ponho em causa que este possa ter sido um veículo aproveitado por outrem para determinados atos, mas se assim foi, então que se investigue, se prove e se puna quem cometeu estes crimes. A máxima de que por um não devem pagar todos parece-me bem aplicável dentro da lógica de um programa que já garantiu a captação de mais de 5.7 mil milhões de euros para o País;

- Dizer que os vistos gold são uma “das principais causas da especulação imobiliária” é demagogia e populismo: para já, este programa foi criado num período em que o mercado nacional vivia uma crise económica, extensível ao sector do imobiliário que tinha em stock ativos que o mercado nacional não tinha capacidade para absorver. Estas casas, nunca serviriam a classe média pois estavam dirigidas para um mercado de segmento alto. Claro que o investimento feito e a reabilitações realizadas ajudaram a valorizar o imobiliário, mas terão sido pouco mais de oito mil vistos atribuídos para investimento imobiliário nos últimos nove anos, os responsáveis pela especulação imobiliária num panorama de centenas de milhares de transações imobiliárias realizadas no mesmo período?

O Governo já cometeu o erro estratégico de aprovar alterações a este programa num período em que se torna óbvia a necessidade de trabalhar a atratividade do País. Talvez seja bom que se evitem mais erros, que se pare com as tentativas de travar a procura, que os partidos possam olhar para este programa como aquilo que é: um mecanismo de atração de investimento estrangeiro.