Porque será que quando nos referimos a um cidadão estrangeiro muito abastado que decidiu vir viver para Portugal e aqui comprar uma casa muito cara, é identificado como “estrangeiro “, e o cidadão estrangeiro pouco abastado que decidiu vir para o nosso país e arrendar uma casa barata, é identificado como “imigrante”, sabendo todos que ambos são imigrantes?
Quando abordamos a correlação entre estrangeiros e a escassez de oferta no mercado imobiliário nacional, é fundamental observar que, ao longo de 11 anos, apenas cerca de 12 mil transações foram realizadas por pessoas com maior poder económico. Em contrapartida, quando nos referimos aos imigrantes que não possuem essa mesma condição financeira, no mesmo período, estamos a falar de aproximadamente meio milhão de pessoas que necessitaram de uma casa. Este é um país que, infelizmente, ainda não oferece condições habitacionais dignas para todos os seus habitantes.
Não podemos ignorar o facto de que os imigrantes com menos recursos financeiros têm absorvido uma parte significativa da oferta de habitações de baixo custo. Contudo, é imperativo compreender que a busca por um lar é um direito básico de qualquer ser humano. Assim como é esperado que tenham acesso a cuidados médicos e de segurança, é igualmente razoável que tenham a oportunidade de encontrar uma habitação digna, no nosso país.
Não é admissível que a sociedade encare com naturalidade a necessidade de pessoas se agruparem em condições precárias sob o mesmo teto. Culpar os imigrantes por essa realidade é absurdo e desumano. Este é um tema que não pode ser negligenciado, muito menos diabolizado.
Devemos ainda reconhecer que a escassez habitacional não é causada pelos imigrantes mais abastados, cujos investimentos imobiliários contribuem positivamente para a economia nacional. Por outro lado, os imigrantes que não possuem esses recursos financeiros são igualmente essenciais para diversos setores da economia, preenchendo uma procura por mão de obra que, de outra forma, não seria satisfeita.
Quando um imigrante investe em propriedades no território português, não está apenas a adquirir um imóvel, mas também a contribuir para a sua valorização e para a estabilidade do mercado. Ao contrário do que acontece noutros locais do mundo como o Mónaco, onde o investimento estrangeiro gera uma pressão transversal no mercado imobiliário, em Portugal, essa dinâmica ocorre de forma mais localizada e sem comprometer a acessibilidade habitacional de forma generalizada.
Em vez de alimentar divisões e preconceitos, devemos procurar soluções inclusivas e equitativas para garantir que todos os habitantes de Portugal tenham acesso a um alojamento merecedor. Este é um desafio complexo, mas é também uma oportunidade para demonstrarmos solidariedade e humanidade na construção de uma sociedade mais justa e acolhedora para todos os que nela habitam.