Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

O direito à indignação

14/02/2024

Não devemos banalizar aquilo que não é comum, aquilo que deveria permanecer no reino do insólito. Todos nós, enquanto indivíduos, devemos questionar se estamos a exercer o nosso direito à indignação ou se estamos a permitir que a mentira se instale confortavelmente à nossa volta.

É do conhecimento geral, que as redes sociais proporcionam um ecossistema fértil para a propagação de teorias e falsidades, especialmente quando esse ecossistema é habitado por indivíduos que negligenciam o cuidado de se informar adequadamente, tornando-se, assim, fertilizantes para os cultivadores da mentira.

Não podemos aceitar como normal a necessidade da existência de espaços de informação cuja missão é determinar a veracidade de afirmações feitas por figuras responsáveis que aspiram governar o nosso país. Essa não deve ser uma realidade com a qual nos conformemos. Todos nós devemos exigir a verdade naquilo que nos é comunicado.

Recentemente, um grupo político anunciou a sua intenção, no âmbito do seu programa eleitoral, de investir 1200 milhões de euros na reabilitação e construção de 80 mil casas em 48 meses. Antes de qualquer análise sobre a proveniência do dinheiro, a disponibilidade de mão-de-obra, ou os materiais de construção, convém fazer uma simples divisão de 1200.000.000 por 80.000. O resultado é 15.000. Por outras palavras, não é viável construir ou reabilitar habitações com um orçamento de 15 mil euros por fogo. Este facto, por si só, deveria provocar indignação em todos nós.

Outra afirmação falsa é a de que a procura estrangeira continua a inflacionar os preços das habitações, uma vez que os cidadãos estrangeiros pagam, em média, 43,4% a mais por metro quadrado do que os residentes locais. Ora, o que deveriam querer dizer é que de todas as casas vendidas em Portugal, 43,4% dos preços mais elevados praticados no nosso país, foram transacionados com cidadãos estrangeiros.

A falta de veracidade nas comunicações que recebemos deveria ser motivo de preocupação e de indignação. Não podemos tolerar mais a mentira. As pessoas precisam se revoltar contra a ausência da verdade.

Não podemos contentar-nos em apenas ler as manchetes e presumir que somos cultos e bem informados. Da mesma forma, não podemos aceitar passivamente a relevância da existência de programas televisivos cujo propósito é verificar se o que é afirmado por determinadas pessoas é verdade ou mentira. A verdade deverá ser o padrão pelo qual nos regemos.