Bento Aires
Bento Aires
engenheiro civil, candidato a Presidente do Conselho Diretivo da OERN

Da Engenharia à habitação: o caminho a percorrer

09/11/2022

Por qualidade entendemos que as habitações satisfazem os requisitos dos seus utilizadores na plenitude. O caminho desde os anos 80 privilegiou a quantidade, com habitações a serem construídas desenfreadamente, mas chegamos ao ponto em que é preciso criar condições para que a construção e a reabilitação sejam de acordo com os novos desafios climáticos, económicos, tecnológicos e de sustentabilidade. Porque a qualidade importa.

O preço a pagar pela má organização do parque edificado é um dos grandes desafios que se coloca aos decisores políticos, públicos e privados, já sem grande margem para estudos ou procrastinação de ações que deveriam, há muito, estar implementadas nas políticas locais de habitação.

Não temos um parque habitacional que nos satisfaça coletivamente. Por outro lado, a habitação existente precisa de cuidado, de ser reabilitada, conservada, obedecendo a princípios da eficiência material, qualificação ambiental, desenvolvimento sustentável, ordenamento e preservação do território, coesão social.

Espera-se que possamos contribuir com estratégias e ações que nos garantam habitações à prova do futuro, e atrevo-me a indicar algumas ações para que o foco não seja apenas a quantidade, mas também a qualidade: definição de uma estratégia de habitação adequada ao contexto e às realidades locais como; apoios para reforço da relação do parque edificado com a envolvente; reforço da componente passiva dos edifícios numa visão integrada do processo construtivo; redução da dependência energética; incentivos fiscais e apoios para a transição energética: autoprodução, acumulação de energia, produção descentralizada, reforço do enquadramento e incentivos para o desenvolvimento de comunidades de energia; valorização das cadeias de abastecimento no processo construtivo incluindo desenho sustentável e ético no acesso a bens e serviços, entre outros.

Porém a mudança e transformações que precisamos implicam o apoio inabalável dos decisores. Não há caminho que possa ser percorrido sem que os líderes estejam totalmente comprometidos com a transição que se quer alcançar. Não se trata apenas de ter boas intenções, é preciso ter claro que o conhecimento da aplicabilidade e a sua maisvalia é transversal. O caminho da construção de qualidade pode ainda ser longo, mas não haja dúvidas que temos recursos humanos que podem fazer esse caminho com passos seguros, determinados e, sobretudo, Engenheiros.