Francisco Horta e Costa
Francisco Horta e Costa
Managing Director da CBRE Portugal

Estamos na Champions League das cidades europeias

03/05/2021

De uma forma geral, os investidores revelaram uma visão otimista sobre as perspetivas para este ano, tendo cerca de 60% dos entrevistados afirmado que tencionam aumentar as suas aquisições, enquanto que cerca de dois terços esperam incrementar as suas vendas.

Em parte devido a este otimismo, a CBRE prevê que os volumes de investimento aumentem cerca de 5% face ao ano anterior. Devido à incerteza resultante da pandemia e o seu impacto na economia e no mercado imobiliário, os investidores mostraram uma maior apetência por estratégias core, ou seja com risco diminuto. Apesar da implementação de um padrão de trabalho flexível, os escritórios mantêm-se como a classe de ativos de eleição.

A logística e o setor da habitação para arrendamento crescem em popularidade, enquanto que a maioria dos investidores esperam descontos significativos em certos ativos de retail ou hotéis.

Um dos resultados mais interessantes deste estudo é o facto de Lisboa fazer parte das dez cidades eleitas pelos mais de 400 entrevistados como um dos destinos mais apetecíveis para investimento imobiliário. De salientar que Londres está em primeiro lugar da lista, seguida por Berlim, Frankfurt, Paris, Amesterdão, Munique, Hamburgo, Zurich e Varsóvia.

Apesar de figurar no décimo lugar, Lisboa destaca-se como a única cidade na Península Ibéria nesta lista de Top Ten Preferred Cities (!), sendo um motivo de orgulho, o qual dá que pensar. Num momento em que se avizinham eleições autárquicas, os candidatos devem fazer uma rápida reflexão sobre as conclusões deste estudo. Não há tempo a perder! Os investidores apostam em Lisboa porque consideram que a nossa capital está a atrair cada vez mais empresas e não só essas empresas vão criar emprego na cidade, como vão atrair cada vez mais pessoas que optam por mudar de país e vêm viver para Lisboa, seja para trabalhar ou estudar.

Make no mistakes: Estamos na Champions League das cidades europeias mais atrativas, sem grande esforço feito até à data pela entidade que governa a nossa cidade. É preciso criar condições e vantagens competitivas para atrair cada vez mais e melhores empresas, seja do setor tecnológico, da saúde, dos serviços financeiros ou outros, bem como para atrair trabalhadores altamente qualificados e estudantes, que vêm atrás de uma qualidade de vida ímpar, de uma cultura milenar e de uma capacidade que temos, como poucos, de acolher a diversidade.

Para isto acontecer é preciso acelerar processos de licenciamento de edifícios que cumpram os requisitos necessários e conformes às exigências internacionais destas entidades e adaptar o Plano Diretor Municipal à realidade dos agregados familiares e das empresas do século XXI. É preciso flexibilizar as tipologias e os lay-outs dos apartamentos, pensando no crescente mercado de arrendamento. É preciso aumentar a oferta de habitação para arrendamento, tornando as rendas mais competitivas e equilibrando a relação qualidade-preço e o tão famoso affordability.

É preciso dar atenção à agenda do famoso ESG ou Environment, Social & Governance, sem o qual as gerações mais novas e as empresas já não sabem viver, dando-lhe um valor absolutamente crítico no momento da tomada de decisão de mudar de cidade.

É preciso implementar um conceito de Smart City, aplicando o máximo de tecnologia à gestão da cidade, recolhendo dados e tratando-os, para tomar mais e melhores decisões, em tempo útil, no que diz respeito à mobilidade e ao ambiente.

É preciso tratar a Área Metropolitana de Lisboa como uma área de interesse comum, integrando Almada, Oeiras, Loures e outros municípios, tendo a marca LISBOA como pano de fundo, deixando de lado questões menores de concorrência.

É fundamental que as pessoas que venham a gerir a cidade de Lisboa façam um périplo por outras cidades europeias, aprendendo com as melhores práticas, para que se possam munir de ferramentas e estratégias para consolidar Lisboa no topo das cidades europeias, lançando-a definitivamente para uma escala impensável até há poucos anos atrás.