Para além da energia consumida pelo setor representar cerca de 37% do total nacional, sabemos também, através dos Censos de 2021, que a percentagem de pessoas a utilizar viatura própria continua a aumentar, fixando-se nos 66%, enquanto há 10 anos o valor era de 62%, o que nos mostra que, na melhor das hipóteses, estamos no pico da utilização da viatura própria.
Este aumento acontece, apesar dos esforços feitos nas últimas décadas, para influenciar a escolha de modos mais sustentáveis em zonas urbanas, tais como a expansão das faixas BUS, aumento das tarifas de parqueamento, ou, nas maiores cidades, a expansão da rede de metropolitanos. A estes esforços, juntam-se, mais recentemente, novas medidas como a introdução de zonas de parqueamento para motociclos e meios de mobilidade leve, expansão da rede de ciclovias, criação de infraestruturas de acesso público para a mobilidade elétrica.
Embora tenham sido passos encorajadores, o crescimento observado na utilização da viatura própria parece ignorar por completo as medidas que visavam combatê-lo. A chegada dos metropolitanos a novas zonas dos grandes centros urbanos, ou a modernização da ferrovia, ou a facilidade de acesso à infraestrutura da mobilidade elétrica, já legislada, prometem, no mínimo, estagnar a utilização da viatura própria em ambiente urbano, mas é certo que estagnar será insuficiente para uma mobilidade mais sustentável.
Então como podem as cidades e os edifícios apoiar a descarbonização da mobilidade? Embora seja necessário induzir esta discussão de forma alargada nas cidades, há pontos que parecem inevitáveis. Tornar os locais de trabalho e escolas mais acessíveis e preparados para uma maior utilização dos meios leves e transportes coletivos é imperativo, sendo também importante a disponibilização de informação sobre os transportes públicos e os seus horários em tempo real nestes locais. Nas ruas e avenidas terá, não só de se garantir a rapidez do transporte coletivo, mas também a segurança da utilização dos meios leves. No que toca à movimentação de bens em ambiente urbano, esta deverá ser feita com o menor impacto possível na mobilidade diária de pessoas, quer através da utilização de meios leves, quer através da adaptação dos edifícios e das infraestruturas para permitir o fluxo de bens fora das horas de trabalho, quando possível.
A transformação necessária para construir um futuro da mobilidade que seja inclusivo e agregador é complexo e não pode parar nas estradas e passeios, tem de abranger todos os elementos das cidades, criando espaço para novos elementos que são necessários para uma mobilidade urbana eficiente, acessível a todos e sem combustíveis fósseis.
A ADENE quer contribuir ativamente para completar o desenho desta visão e a sua implementação, fazendo uso de ferramentas como o MOVE+, através do qual caracteriza a mobilidade de hoje, acelerando a mobilidade de manhã, mas também outras iniciativas relacionadas com a mobilidade. Os edifícios e as cidades não estão prontos para a mobilidade que queremos e necessitamos, mas cabe a todos nós trilhar o caminho mais sustentável.