Luís Lima
Luís Lima
Presidente da APEMIP

Estender a oportunidade de sobreviver

13/05/2020

Cheguei à Presidência da APEMIP em 2009, quando começava a escalar a crise do subprime, e quando as coisas pareciam estar finalmente a compor-se, eis que surge uma pandemia mundial que vem desafiar uma vez mais a nossa criatividade num panorama à escala mundial absolutamente inédito.

A (única) grande vantagem de ser um “filho da crise” é que comigo já trago a experiência daquilo que aprendi num passado bem recente. E como eu, muitos empresários também estão hoje mais bem preparados para enfrentar os desafios que virão. Os erros têm um papel pedagógico nas nossas vidas e servem para aprendermos com ele. Sabemos hoje o que correu mal nos tempos da Troika, em que se faziam capas de jornais com o número crescente de imóveis entregues em dação por famílias que não conseguiam assumir os seus compromissos, engordando os números do stock imobiliário que na altura, era superior à procura existente, levando à desvalorização do património imobiliário.

Atualmente, não há justificação para vermos este filme duas vezes. A questão das moratórias de crédito, que tanto tenho defendido desde o início da pandemia, tem aqui um papel fundamental confirmado pelos milhares de pedidos recebidos pelas instituições financeiras, que permitiram a muitas famílias e empresas ter algum fôlego num período de grande aperto financeiro e em que muitas pessoas viram o seu rendimento cair para zero.

Para além desta proteção das pessoas e empresas, está-se também a proteger a banca (pela eventual necessidade do aumento de provisões) e o mercado imobiliário, impedido que questões mais emocionais levem as pessoas ao desespero e por consequência à desvalorização do património.

Mas talvez seis meses de mora sejam insuficientes para evitar o crescimento do crédito mal parado. O próprio Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, defendeu no parlamento que moratórias devem ter uma extensão tão longa quanto possível, numa decisão que deverá ser tomada em tempo útil para que os créditos não caiam numa classificação que indicie incumprimento.

Doze meses seria o período ideal de duração das moratórias de crédito, que permitiram a continuidade do seu desempenho que podemos comprar à importância que os ventiladores têm agora no nosso sistema de saúde: podem não curar, mas darão decerto um contributo importantíssimo na ajuda da sobrevivência.

E todos os apoios às pessoas e empresas são poucos, sobretudo num panorama em que, como foi anunciado recentemente, se esgotou a linha específica de crédito de apoio às empresas no valor de 4.5 mil milhões de euros.

Sabemos que nem todas as empresas conseguirão sobreviver. Mas há que fazer todos os esforços para salvar o maior número possível de empresas, e por inerência, de empregos.