Carlos Suaréz
Carlos Suaréz
Administrador da VICTORIA Seguros

O que eu vi andando por aí. Alguns números além-fonteiras

25/10/2023

Já tinha lido que o mercado nos EUA estava à beira da crise, com as vendas de locais comerciais a caírem e os bancos mais pequenos sob pressão. Igualmente, que a tendência ascendente no Reino Unido estava a corrigir-se pela via dos preços; caso contrário ao da Espanha que, embora também esteja a sentir a desaceleração no número de transações, parece manter o nível dos preços. 

Mas, afinal, o que é que esses dados todos significam? Estamos a falar de que tipo de mercados, com que valores absolutos e evoluções históricas? Mais, será que tendo essa informação de base, é possível tirar ilações relativas às publicações divulgadas? 

Bem, no caso dos EUA, falamos dum parque habitacional de 142 milhões de unidades, com um crescimento de 31 milhões de habitações (28%) na série compreendida entre os anos de 2000 e 2021. Em Inglaterra, o stock de habitação atinge um valor de 25 milhões de casas com um incremento de 3,6 milhões das mesmas, na referida vintena (17%). Finalmente, no caso da Espanha, o número de habitações permanentes incrementou-se em 4,1 milhões de unidades (28%), atingindo o parque edificado um valor perto de 19 milhões de lugares residenciais.

A pensar no assunto de maneira diferente, no ano 2000 constavam do censo dos EUA 281 milhões de cidadãos e 111 milhões de habitações (rácio de 2,5 habitantes por casa). Essa relação era de 2,7, quer em Inglaterra, quer em Espanha. Volvidos vinte anos, os rácios nos três países são inferiores, i.e., 2,3 nos EUA (-8%), 2,6 em Inglaterra (-3%) e 2,4 em Espanha (-10%). Consequência das alterações dos padrões sociológicos, talvez? Ou é, antes, como se ouve dizer, nos três mercados, que existe falta de habitação? A estudar…

No tocante ao número de habitações iniciadas entre os anos 2018 e 2022, o mercado norte-americano oferece os dados seguintes (em milhões): 1,2; 1,3; 1,2; 1,6 e 1,5. Já o mercado do Reino Unido evolui desta forma (em milhares): 200; 187; 170; 207 e 203. Finalmente, no caso de Espanha (também em milhares) o mercado comportou-se assim: 91; 96; 76; 100 e 97. Sem ter de pensar muito, a primeira conclusão é evidente: num “gráfico de linhas”, a evolução dos três mercados é bastante simétrica, sendo o pior ano da série 2020 e o melhor 2021. 

No entanto, e apesar de não existir nenhum caso grave de desvio padrão, a taxa média de crescimento anual no período observado difere entre os EUA (7%), o Reino Unido (1%) e a Espanha (3%). Dito doutra forma, parece que, no capítulo das habitações iniciadas, o dinamismo dos mercados analisados no último quinquénio já não é assim tão simétrico. Mais, se formos ver a percentagem das referidas habitações iniciadas – relativamente ao parque habitacional –, nos EUA e em Inglaterra percebemos um valor de 5%, enquanto em Espanha apenas se atingem os 3%. Também matéria de análise mais profunda…

Por último, quais os valores que caraterizam a proteção do parque habitacional nesses três mercados? Nos EUA, 93% dos proprietários têm seguro de habitação, no Reino Unido 75% e em Espanha 68%.

E nós, por cá? Como é que se relacionam esses valores todos com a nossa realidade?

Em Portugal, andamos à volta dos 6 milhões de fogos, com um crescimento de 1 milhão de alojamentos familiares clássicos (20%) no período compreendido entre os anos de 2000 e 2021.

Evolução, essa, inferior à dos EUA ou Espanha, mas superior à da Inglaterra. Visto como relação entre número de habitantes e casas, no caso português, o rácio era de 2 no ano 2000 e de “1,7”, em 2021, valores sempre abaixo dos países comparados, e com o algarismo final mais negativo: -13% entre o primeiro ano e o último. 

Na vertente do número de habitações iniciadas entre os anos 2018 e 2022, o mercado português difere, de forma notória, dos outros três, oferecendo um “gráfico de linhas” sem inflexões com uma tendência nitidamente ascendente (em milhares): 14;16;21;23 e 23) e uma taxa de crescimento (14%) que duplica a do mercado mais dinâmico, i.e., o norte-americano. Sem embargo, o volume de habitações iniciadas em relação ao edificado (2%) é o mais exíguo de todos os mercados analisados. 

Quanto ao parque habitacional seguro, estima-se que 58% das unidades (3,6 milhões) contem com alguma forma de proteção.

Enfim, muita matéria para digerir e analisar, mas, assim de repente, numa visão meramente superficial, fiquei com a ideia de que o nosso mercado de habitação merece um estudo em separado. Continuo, assim, a não tirar grandes ilações das matérias publicadas… Mas aprendi muito até lá chegar. 

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