Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Extensão para a sobrevivência

13/01/2021

Começamos este novo ano com o anúncio de um novo confinamento para travar mais contágios e, embora à data em que escrevo este artigo não se saiba ainda os pormenores concretos sobre as restrições que serão aplicáveis, é certo que terão impacto negativo no tecido económico nacional, com consequências diretas na estabilidade laboral das famílias.

Este adiamento da perspetiva de um regresso à normalidade vem aumentar ainda mais a incerteza, que é, como se sabe, uma das grandes inimigas do investimento.

Neste último ano foi fácil de perceber que, perante as dificuldades, medidas como o lay-off ou as moratórias foram fundamentais para mitigar o efeito catastrófico que a pandemia teve no dia-a-dia da grande maioria das empresas, e perante os pontos de interrogação que surgem sobre o futuro (não esqueçamos as palavras dos nossos governantes que no ano passado diziam que “a economia não aguentará um novo confinamento”), sabemos que não nos esperam tempos fáceis, pelo que há que antecipar potenciais fenómenos que possam tornar ainda mais dramática uma situação tão difícil como a que já vivemos

Fui, no início do ano passado e logo que a pandemia começou a revelar efeitos no nosso tecido económico, uma das primeiras pessoas a alertar para a necessidade de haver, por parte do Estado, uma ação junto do sector financeiro para que a Banca assumisse um papel interventivo no apoio às famílias e empresas, o que acabou por acontecer.

Neste momento em que se prevê que as moratórias de crédito terminem em setembro, há que avaliar muito bem a eventual necessidade de prolongar este mecanismo por, pelo menos mais um ano.

Na pior das hipóteses, o fim das moratórias poderá resultar num cenário de incumprimento do pagamento das prestações de crédito, podendo dar-se o caso de resultar num aumento significativo da oferta imobiliária, motivado por pessoas com urgência e necessidade em realizar liquidez que poderão, perante esta situação, ver-se tentadas a desvalorizar o seu património para acelerar a venda do ativo.

Perante esta hipótese, defendo veementemente que se deve apostar numa extensão deste mecanismo por pelo menos um ano, ou até mais como sugeriu o próprio Presidente da República, que apontou para uma necessidade do seu prolongamento por mais três ou quatro anos, permitindo a total recuperação económica. Durante este período, poder-se-ia encontrar um meio-termo para que pessoas e empresas possam assumir pelo menos o valor dos juros.

Tenho usado a comparação destas moratórias aos ventiladores, e será uma metáfora que continuarei a referir: podem não salvar toda a gente, mas pelo menos, ajudarão muitos a sobreviver.