Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Força de bloqueio

16/09/2020

Se no período pré-pandemia o desempenho e burocracia da administração pública já revelavam problemas, com o Covid-19 estes problemas acabaram por ser agravados, refletindo-se em tempos de espera, muitas vezes absurdos com repercussões diretas na vida dos cidadãos.

No que diz respeito às atividades imobiliárias, e em particular à mediação imobiliária, as reclamações que têm sido feitas à APEMIP (Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal) são frequentes. Em causa, estão sobretudo as dificuldades no agendamento de atos que exigem marcação telefónica, numa tarefa que se torna quase impossível devido ao facto de o atendimento ser ineficaz.

Reporto a título de exemplo caso de uma associada que, durante uma manhã, ligou 17 vezes para o serviço de finanças da área que lhe é afeta (após tentativas de contacto anteriores), sem que nunca lhe atendessem o telefone ou de casos em que a burocracia é tanta, que no mesmo agendamento os funcionários se recusem a fazer dois atos (como o depósito de fichas técnicas de habitação) que demoram minutos, obrigando os cidadãos repetir o ciclo de tentativas de contacto telefónico até conseguir, finalmente, que o atendam para agendar um ato que só terá vaga para dali a um mês ou mais.

Este é apenas um dos exemplos que repetidamente nos são reportados, bem como adiamentos em cima da hora, ou agendamentos para daqui a meses.

Os sindicatos alegam falta de gente, mas a ineficácia dos serviços acentuou-se gravemente com o teletrabalho, revelando a necessidade de auditar os serviços prestados aos cidadãos.

No que diz respeito ao sector que represento, estes atrasos e adiamentos poderão resultar no cancelamento de negócios que são, em qualquer altura e em particular nesta que vivemos, indispensáveis à manutenção das empresas e dos empregos que geram.

Esta falta de agilização empata o dia-a-dia das empresas, atrasa ou inviabiliza negócios, e levam a perdas de tempo e dinheiro em procedimentos que se fariam digitalmente num ápice. Mas, infelizmente, os serviços administrativos do sector público acabam por se transformar numa espécie de força de bloqueio, quando deveriam apoiar os cidadãos e empresas a despachar processos.

Se algo aprendemos com esta crise pandémica, é que o futuro está na digitalização dos procedimentos, particularmente num contexto como o atual, em que é preciso procurar as soluções para que a eficiência se torne prioritária no contexto dos serviços públicos e nos mecanismos e tecnologia que estão à disposição dos cidadãos e o investimento nestes procedimentos revela-se absolutamente indispensável para dar resposta às obrigações dos cidadãos, ajudando ao invés de empatar.