Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

A frustração dos profetas da desgraça...

14/12/2022

Ora auguramos a calamidade eminente ora, logo depois, antevemos os futuros mais radiosos e promissores. Se não é a crise e a insolvência, será certamente o golpe de sorte de ganhar o ‘jackpot’ no Euromilhões ou, no mínimo, o Totoloto.

O imobiliário não foge a esta sina nacional. Pior são, no entanto, aqueles que fazem da profecia da desgraça a sua maneira de estar perante a vida, a profissão e o mercado. Vivem disso, alimentando-se do receio ou do pânico que incutem nos outros. Anteveem e vaticinam sempre os piores e mais negros cenários.

Esses deveriam ser “reequilibrados” ou “calibrados”. Na vida e nas sociedades há uma vastidão de eventos que não controlamos e podem ter consequências más na vida de todos nós. Sempre foi assim e seguramente assim será.

Ouvimos muito recentemente tantos e tantos maus augúrios, o aumento exponencial dos juros sem que nada nem ninguém os pudesse travar, a inflação em espiral acelerada, a escassez inexorável dos produtos, as impagáveis prestações dos empréstimos do crédito imobiliário, as pessoas que teriam de entregar as suas casas aos bancos, … e aí por diante!!!!

E pode acontecer, como qualquer tipo de evento mau e que não controlamos. O que não significa que tenha qualquer tipo de consequência positiva vaticiná-lo como diagnóstico seguro emitido por iluminados analistas.

Passado esses primeiros impactos de alterações no mercado - sempre aproveitados e amplificados pelos ditos profetas -, a realidade acaba por se impor e, afinal, constatamos que somos capazes de a encarar com serenidade e lucidez.

A informação atempada e credível é, nesta conjuntura de alteração da realidade económica, uma ferramenta essencial à análise da realidade e à tomada de decisões. Os sinais que nos chegam deitam por terra as previsões do holocausto.

Passando os olhos pelos jornais económicos, nacionais e estrangeiros, lemos: “os juros da dívida portuguesa a dez anos em mínimos de três meses»; “o Euro avança face ao dólar”; “taxas euribor invertem tendência e caem a três, seis e 12 meses”; “juros aliviam na Zona Euro. Alemanha e Itália recuam ao valor mais baixo desde setembro e agosto”.

Mais: “Banco de Portugal calcula que valor pago em créditos à habitação vai subir de 390 milhões em junho de 2022 para 520 milhões no final de 2023. Porém, 41% das prestações vão subir menos de 50 euros”; “nível de incumprimento bancário está hoje no nível mais baixo dos últimos 24 anos (0,3%, segundo o BdP)”. O que explica esta situação? Lemos:” As condições de concessão de novos créditos habitação estão mais rigorosas. E, por outro lado, os empréstimos bancários mais antigos vão sentir menos as subidas dos juros, já que com o passar do tempo o peso dos juros diminui nas prestações das casas”.

A oferta imobiliária é escassa em praticamente todos os segmentos e no mercado imobiliário a reposição de imóveis é especialmente lenta, não permitindo inverter abruptamente o desequilíbrio entre oferta e procura.

Com os sinais de desaceleração na economia, é um dado natural e expectável que o número de transações diminua mercê da expectativa que gera nos protagonistas do mercado. Todos encaram a nova realidade e aguardam que surjam novos vislumbres de previsibilidade. Que o tempo que se avizinha enevoado deixe passar de novo uma réstia de sol.

O apocalipse - esse -, fica para os profetas da desgraça!