Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Há “especulação” generalizada. Será mesmo assim?

22/09/2021

Ora, hoje em dia, diz-se com excessiva facilidade que os preços das casas estão especulados. Fala-se em especulação, como uma operação comercial desajustada e desfasada da realidade, que visa a obtenção de lucros exagerados ou pouco legítimos.

Especular um preço significa que um valor é insuflado artificialmente, ou seja, alguém que, por exemplo, compra um produto a 5 cêntimos e depois vende a 5 euros, omitindo que a estrutura de custos desse produto é disfuncional.

Um exemplo disto seria se alguém decidisse fechar uma fábrica muito grande, implementada num terreno enorme, numa fantástica localização. Caso alguém comprasse esse terreno não edificável e poluído, sabendo que iria ser capaz de inverter essa configuração para de seguida vender um “fabulástico” empreendimento habitacional, essa seria aparentemente uma operação especulativa.

Contudo, no mercado imobiliário e principalmente nos grandes centros urbanos, a realidade é que hoje não é possível comprar um imóvel por um baixo valor e, de seguida, conseguir vendê-lo a um valor significativamente mais elevado. Além disso, as pessoas estão cada vez mais informadas. Quando pagam um determinado valor por um imóvel, informam-se, com o objetivo de se sentirem tranquilas e seguras na decisão que estão a tomar, seja a compra de um apartamento de 140.000€, seja uma casa de 1€ milhão.

As pessoas que podem comprar imóveis com preços mais elevados não são menos cuidadosas e criteriosas com os investimentos que realizam.

Além disso, hoje em dia, principalmente através da internet, a generalidade das pessoas está informada. Falar de especulação imobiliária não é mais do que uma forma populista e desajustada de encarar a valorização que os imóveis têm tido.

Não faz parte do mundo real comprar um prédio antigo no centro de Lisboa ou Porto por uma “bagatela”. Não existe! Assim como não existe a possibilidade de seguidamente ter um processo muito rápido de licenciamento de projetos (não é assim) construir a baixos custos de construção (não é possível), para finalmente vende-los a alguém muito abastado e desinformado

Temos um mercado com preços muito elevados, principalmente nas grandes metrópoles do nosso país. É necessário aumentar a oferta de soluções imobiliárias.

Um importante contributo para o aumento da oferta seria a agilização dos processos de licenciamento necessários a reabilitação ou edificação como, por exemplo, um quadro legislativo e tributário estável e estimulante para aqueles que estão disponíveis para arriscar na construção de oferta de novas soluções imobiliárias.

São igualmente necessárias mais casas para arrendar. Também é indispensável não alterar as “regras de jogo” daqueles que estão disponíveis e capazes de colocar os seus ativos no mercado de arrendamento de longa duração.

Entretanto, caso existissem governantes e autarcas disponíveis para vender ou arrendar um imóvel seu — sem correrem o risco de se tornarem especuladores — e os colocarem no mercado de venda ou arrendamento a preços significativamente mais baixos do que os praticados, seria interessante.