Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Imobiliário. O diabo, está nas generalizações… !

19/10/2022

Há que dizer, de uma vez por todas, que o mercado imobiliário é muito diverso e diversificado e, por assim sê-lo, exige uma análise criteriosa, rigorosa, adaptada àquilo a que estamos a abordar. Sob pena de perdermos totalmente a objetividade.

Um exemplo: “com o aumento da Euribor muitos portugueses vão ficar aflitos para pagar a prestação ao banco…” - dizem. Em parte, poderá ser verdade para quem comprou casa e recorreu a financiamento, mas a situação é totalmente diferente para uma família que está a pagar o seu empréstimo há 20 ou 10 anos e as que contraíram empréstimos há menos de 5 anos. As primeiras, em princípio, têm um valor de empréstimo bastante menor e, previsivelmente, o seu património vale hoje muito, muito mais…A sua casa conheceu uma valorização que nunca chegaram a imaginar. Se, eventualmente tiverem dificuldades em pagar a prestação, essas famílias têm todas as condições para poder transacionar as suas casas e trocá-las por soluções mais condizentes com o seu equilíbrio financeiro; ou, até mesmo, livrarem-se de vez das prestações da casa.

Os portugueses em maiores dificuldades poderão ser os que compraram casa há pouco tempo, dado que esta não se valorizou com grande significado, não passou tempo suficiente para prolongar prazos e as prestações subiram muito.

“Têm que entregar as casas ao banco…” – afirmam os «generalistas» ou até os Media dados a generalizações…

Mas não é assim que as coisas se passam. A casa é propriedade da família e apenas está hipotecada pelo valor do empréstimo contraído. A família se necessário pode e deve renegociar com o banco as condições do seu empréstimo. E, hoje, os bancos não gostam nem querem fazer o papel de «maus». Até porque sabem se acumularem processos de incumprimento acabam por vendê-los ‘por grosso ou atacado’ a entidades gestoras de crédito com perdas assinaláveis. A crise iniciada em 2007, foi exemplo disso e foi ainda ontem…

As famílias que contraíram recentemente empréstimos hipotecários na compra da sua casa estão mais condicionadas na renegociação, pois, provavelmente, o seu contrato já abrange o limite máximo de 30 anos ou os 70 anos de idade do casal. Para estes casos o Governo e a quase generalidade das forças políticas mostra preocupação e prometeu encontrar medidas que possam agilizar soluções.

Mas estes exemplos demonstram que o Mercado Imobiliário não é estático. É uma cadência sistemática de transações, em que anualmente o volume de capital emprestado pelos bancos não chega a representar 50% do capital total envolvido nas transações; os outros mais de 50% têm origem nas poupanças das famílias que, na maior parte das vezes, traduzem-se no capital acumulado resultante da venda da sua atual casa.