Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

A (inevitável) internacionalização da mediação imobiliária em Portugal

07/09/2022

O incremento contínuo do valor das soluções imobiliárias existentes, resultante de novas promoções ou reabilitações do edificado, em particular nos principais centros urbanos, é um facto por todos constatável.

Os valores estão proibitivos para a generalidade das «carteiras» dos portugueses. Estes veem-se obrigados, por falta de alternativa na compra ou no arrendamento, a procurar concelhos limítrofes, cada vez mais distantes das grandes urbes. Mas o que constatamos é que, também, nesses concelhos-refúgio, fruto de uma maior procura, os preços estão a aumentar. Veja-se, por exemplo, os casos de Torres Vedras, do Seixal, de Almada e até de Setúbal, na Região da Grande Lisboa; ou de casos semelhantes na Região do Grande Porto. Era inevitável. A valorização das soluções habitacionais não está indexada ao rendimento das pessoas…

Somos levados a pensar que terão que ser o Estado central e as autarquias a encontrar soluções residenciais para a classe média e outras camadas da população menos beneficiadas, pois ninguém poderá ficar para trás e excluído daquilo que é considerado o 1.º direito: a habitação. Disponibilizando terrenos, promovendo e vendendo ou arrendando a preços acessíveis. Por iniciativa pública ou em parcerias público-privadas.

Por outro lado, Portugal, pela sua localização estratégica, pela segurança e tranquilidade de que desfruta, pela rede de escolas e unidades de saúde públicas e privadas de que dispõe, pelas novas condições geradas pelo teletrabalho, colocam o nosso país «debaixo de olho» de muitos estrangeiros, que aqui querem investir ou residir, dando um novo rumo às suas vidas. E a «carteira» destes estrangeiros que nos procuram não é de todo comparável à «carteira» dos portugueses.

Quero com isto dizer que a vaga de investimento estrangeiro no nosso país ainda só agora começou. Os brasileiros investem muito mais na Florida do que em Portugal. Os cidadãos norte-americanos, que muito investem no Brasil, estão também agora a chegar em força. Regra geral, pensamos apenas nos estrangeiros com suficiente capital para adquirir residências «prime», mas chegarão em maior número também aqueles que só podem dispor de 200 ou 250 mil euros e que, por não poderem comprar em Lisboa ou no Porto, irão fazer pressão sobre os concelhos periféricos ou mesmo do interior.

Esta alteração a que estamos a assistir irá também «mexer» com o mercado e a mediação imobiliária. A National Association of Realtors (NAR), norte-americana, por exemplo, com mais de 1,5 milhões de membros associados, procura cada vez mais que os investidores norte-americanos sejam assistidos por consultores que tenha uma formação especializada para o efeito: a denominada “CIPS”. Em Portugal já temos alguns formandos habilitados a agir com estes investidores internacionais.

A APEMIP, em conjunto com a UCI - União de Créditos Imobiliários, está já preparada e reconhecida pela NAR para prestar esta formação. Os profissionais do sector devem estar atentos para estes novos patamares de exigência que nos são colocados por este mercado cada vez mais globalizado.