Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Informação exata e verdadeira, precisa-se

06/09/2023

Mas é também crucial e fundamental que seja divulgada informação exata e verdadeira. A população precisa de estar bem informada. É um direito e é também a única forma que garante que as decisões são tomadas na posse de dados corretos e fidedignos.

A desinformação é um problema sério, que é premente resolver. Sobretudo porque ter por base informação errada pode desviar-nos daquilo que é essencial. E, no que toca à habitação, nunca foi tão importante termos boa informação mas, acima de tudo, informação correta.

Em agosto, foi anunciado, e assumido como verdadeiro, um dado segundo o qual Lisboa é a cidade mais cara da Europa para arrendar casa. E isso não é verdade. Foi revelado que arrendar um T1 pode custar, em média, 2.500 euros por mês. E isso não é verdade. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a renda mediana em Lisboa, no primeiro trimestre deste ano, ascendeu a 14,5 euros por metro quadrado. Estes são os dados oficiais e que refletem transações reais. A área de um apartamento de tipologia T1, salvo raras exceções, varia entre 45 e 80 metros quadrados, o que significa que os valores médios estarão compreendidos entre 650 e 1.160 euros.

Lisboa é uma cidade cara, efetivamente. Os preços dos imóveis estão, em muitos casos, muito acima daquele que é o rendimento médio dos portugueses. Mas não é verdade que seja a cidade mais cara da Europa para arrendar casa.

Mas há mais dados enganadores. Há, neste momento, diversas plataformas e portais que permitem que seja colocado o valor que os proprietários gostariam de receber a troco de uma casa e emergem estudos com base no desejo desses proprietários e não em informação real e exata. Por exemplo, foi anunciado, também em agosto, que a rua Garrett é a rua mais cara do país para comprar casa, com os proprietários a pedirem, em média, 4,4 milhões de euros para a aquisição de um imóvel. Ora, esta rua tem 200 metros de comprimento e tem, neste momento, um duplex à venda por 6 milhões de euros em oito imobiliárias e outro imóvel por um valor mais baixo que resulta numa média de cerca de 4,5 milhões de euros.

Informar que o preço médio lá na rua é de 4,5 milhões de euros é distorcer e desvirtuar dados. Distorce a realidade e desvirtua o mercado. Num contexto em que os preços são elevados, é prioritário que as decisões sejam tomadas com base em informação correta e real. Este tipo de informação distorcida afasta potenciais interessados, altera decisões e tem um efeito perverso no mercado. Cria uma ideia errada sobre o mercado e para quem quer estar no mercado. Não retrata a realidade.

Maior sentido ético exige-se às fontes que anseiam notoriedade e principalmente aos meios que emitem informação, os quais é suposto terem um contributo responsável para que todos tenhamos informação diversa, fiável, isenta e muito necessária.