Hugo Santos Ferreira
Hugo Santos Ferreira
Vice-Presidente Executivo, APPII

Investimento: serenidade cautelosa deve imperar

08/04/2020

Muito se tem falado, com algum alarmismo, da descida dos preços e da consequente quebra do mercado imobiliário. Julgamos que devemos abordar o tema serena e cautelosamente.

Para já constatamos o evidente de que vivemos uma das piores paralisações dos últimos tempos e que a economia global irá, naturalmente, abrandar. Acontecerá na indústria, no comércio, no turismo e, de forma honesta, há que dizer também no imobiliário.

Sucede que no nosso setor se prevê um abrandamento temporário e contextual, antecipando os investidores um pouco por todo o mundo que a recuperação será relativamente rápida e que pode vir a acontecer, pese embora a incerteza de algo que é novo e com consequências imprevistas, em 6-12 meses.

Adicionalmente diríamos que os “fundamentals”, que permitiram ao nosso mercado consolidar-se como um dos destinos preferenciais dos investidores de todo o mundo, se manterão (à exceção do turismo). Isto se o Governo assim o permitir, pensando por exemplo que será necessário arrepiar caminho das propostas de revisão que existem para os programas de captação de investimento estrangeiro, Golden Visa e RNH.

Diga-se ainda, em prol da confiança dos que apostam no sector e que nele acreditam (imobiliário=confiança), que a informação que nos chega dos promotores e investidores imobiliários é a de que, mesmo com todas as contingências e abrandamentos, a maioria tem conseguido, com muita perseverança, determinação e uso de todas as possíveis e inimagináveis tecnologias, manter a atividade, continuando a existir a procura dos investidores internacionais, estando a fechar vendas diretas online e conseguindo manter, na medida do possível, os projetos de construção.

Dito isto, acreditamos que a maioria desses promotores e investidores imobiliários se profissionalizaram muito e souberam precaver as suas tesourarias para imprevistos desta natureza, tendo as suas “caixas” preparadas para aguentar alguns meses sem gerar influxos de caixa significativo – e aqui ficamos orgulhosos de poder dizer que são a maioria das empresas associadas da APPII - , estando prontos para aguentar este período com pouca receita (com as tais vendas diretas online e as operações futuras que preparam em conjunto com os seus investidores/acionistas), mas tendo capacidade de assegurar, no imediato, o pagamento a trabalhadores e a fornecedores de uma fileira inteira que deles depende.

Por outro lado, como diz o ditado “quem anda à chuva molha-se” e neste momento só terá de “andar chuva” quem tem de se “molhar”. Ou seja, só aqueles que necessitem de gerar o tal influxo de caixa para fazer face a despesa corrente é que terão de ir neste momento ao mercado em situação de necessidade, colocando os seus ativos em comercialização a preços mais baixos ou a desconto. Há que ser perentório nesta fase de incertezas: não acreditamos e não temos visto os promotores e investidores associados da APPII a fazer nem uma coisa nem outra, não andando “à chuva”, não tendo assim de se “molhar”. Têm preferido resguardar-se, precaver-se no sentido de poderem não gerar receita ou gerar muito pouca, tentando manter a atividade possível e então depois da tempestade, quando chegar a bonança, regressarem ao mercado em força, com a consequência dos seus ativos não terem depreciado ou terem depreciado pouco e poderem retomar a sua atividade normal, encontrando um mercado, em matéria de preços e valor dos ativos, parecido com o que deixaram antes da Pandemia.

Em resumo, há que, serena e de forma cautelosa em prol da manutenção da necessária confiança no nosso mercado, desdramatizar a descida de preços que os gráficos de amanhã vão mostrar no sector. Será normal e esperado para este momento de paralisação, dela tendo de sofrer os que infelizmente tiverem de ir agora ao mercado, mas prevendo-se que tal seja provisório e de rápida inversão, para uma recuperação célere, devendo o sector do investimento imobiliário encontrar-se então nessa altura capaz e preparado para, mais uma vez, estar à altura de ajudar todo o País.