Carlos Suaréz
Carlos Suaréz
Administrador da VICTORIA Seguros

Um dos maiores riscos? O calor!

25/06/2025

Fiquei a saber há uns dias, por via dum relatório emitido anualmente pela resseguradora Swiss Re (SONAR), que, na sua opinião, o risco estrutural emergente com impactos potencialmente mais devastadores passou a ser o calor. À partida, não parece linear que os riscos de terramoto e cheias sejam “ultrapassados” pelo aumento das temperaturas, mas alguns valores estatísticos ajudam a ponderar uma eventual mudança de ideia: 2024 foi o ano mais quente desde que existem registos; entre os meses de junho de 2023 e abril de 2024 identificaram-se 76 ondas de calor no mundo; nesse período, à volta de 6 mil milhões de pessoas foram impactadas, pelo menos durante 31 dias, por um aumento extremo da temperatura; projetam-se $ 500M de perdas em ativos fixos de telecomunicações até 2035… 

No entanto, o dado do relatório que me deixou mais desconfortável e que fez com que pensasse em tratar este assunto neste espaço foi o seguinte: segundo um estudo publicado pelo jornal The Lancet Planetary Health, à volta de 500 mil pessoas morrem anualmente pelos efeitos do calor extremo… O que faz deste risco da natureza o mais letal de todos, superando os efeitos combinados de cheias, furacões e terramotos. Alucinante!

Ora, o que se poderia fazer desde o mundo da construção e do imobiliário para mitigar esse risco estrutural emergente e os impactos associados, quer nas pessoas, quer nas empresas? 

Poder-se-ia pensar numa abordagem holística que admitisse, desde o momento do projeto, apontar para edifícios, infraestruturas de apoio e envolventes destinadas a combater as próximas ondas de calor? Para imóveis e equipamentos urbanos desenhados com o propósito de terem maiores espaços de sombra, mais ventilação natural e maior presença de elementos energeticamente eficientes? 

Seria viável pensar num maior protagonismo do paisagismo (zonas verdes) integrado numa conceção urbanística virada para o arrefecimento dos entornos (espaçamento de edifícios e adaptação da atividade da construção aos mapas de calor urbanos)? 

Valeria a pena analisar a exequibilidade da utilização maciça de materiais de alta refletância solar em coberturas (telhas brancas), pavimentos (revestimentos frios) e fachadas (tintas refletoras)? E seria profícuo aprofundar na investigação de soluções de materiais de mudança de fase a incorporar em paredes, tetos e pisos para regular a temperatura interna dos edifícios, reduzindo a necessidade de sistemas de aquecimento e refrigeração e, portanto, contribuindo para um isolamento térmico eficiente?

Por último, era totalmente descabido apostar fortemente nas novas tecnologias (sensores, IoT…) e a inteligência artificial, no intuito de testar novos modelos de projeto, construção e gestão de edifícios e, assim, acelerar a obtenção de resultados?

Enfim, são apenas perguntas sem respostas diretas mas, se calhar, é mesmo assim que poderíamos começar a equacionar o que fazer com este novo e perigoso inimigo da nossa forma de vida dentro e fora dos edifícios. Fica aí o desafio!