Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Mais crédito, menos transações

09/12/2020

De acordo com os dados publicados pelo Banco de Portugal, o crédito à habitação terá registado um aumento de 0,62% face ao mês a anterior e de 2% relativamente ao período homólogo.

O acumulado entre janeiro e outubro deste ano já ultrapassou os 9 mil milhões de euros, fixando um aumento de 6,4% face a igual período do ano passado.

Estes dados parecem surpreendentes, uma vez que num contexto de crise pandémica e de recessão da economia, não seria de esperar que a compra de casa mantivesse dinâmicas desta natureza.

Apesar de a concessão de crédito ter aumentado, tal não se refletiu no aumento de transações imobiliárias. No primeiro semestre deste ano registou-se uma quebra homóloga da venda de alojamentos familiares na ordem dos 11%.

Tal poderá justificar-se por eventuais alterações das estruturas de agregados familiares – pessoas que se juntaram, que se separam, nascimento de crianças, uma procura por casas de maiores dimensões resultante do período de confinamento, que levaram a uma maior dinâmica do mercado interno, o que significa que se terão verificado mais transações para habitação própria do que propriamente para investimento e recolocação no mercado de arrendamento urbano. Torna-se também notória a importância que o mercado interno continua a ter no panorama imobiliário, uma vez que no corrente ano o investimento estrangeiro (que não deixa de ser muito importante) foi praticamente residual devido à situação da pandemia e às restrições de circulação que foram impostas.

Por isso, apesar de ter havido menos transações, conclui-se que houve mais vendas feitas com recurso a crédito à habitação. E não se pense que o sector financeiro terá facilitado o acesso ao crédito. As condições mantêm-se apertadas, com muitas famílias a encontrar muitas dificuldades em conseguir cumprir com a taxa de esforço exigida, para a qual os fiadores não entram para efeitos de cálculo.

No entanto, considerando a estrutura da oferta habitacional em Portugal, e num cenário em que o arrendamento continua a não ser uma opção compensatória, a compra continua a revelar-se como a alternativa eleita pelos portugueses, ainda que, muitas das vezes, os jovens e famílias comprem em zonas periféricas ao invés da preferência primária, que seria a da compra em centro urbano que acaba por ser impeditiva devido à falta de oferta e aos elevados preços praticados.

Esta realidade não deixa de ser igualmente uma confirmação da confiança que existe no imobiliário nacional. A concretização de negócios desta natureza neste período atípico significa também que as pessoas acreditam que estão a fazer um bom investimento. Se desconfiassem que vem aí uma desvalorização do património construído, aguardariam.

É a própria corroboração de que o mercado imobiliário nacional continua a apresentar-se como um bom refúgio para investimentos e que um terá papel fundamental na recuperação da economia nacional.