Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Mediação imobiliária - valor que não se substitui

26/11/2025

Não é por acaso que gigantes como a norte americana Compass construída sobre um conceito de agentes independentes e estruturas leves se prepara para adquirir a Anywhere, um grupo assente precisamente no modelo contrário: marcas de agências com alinhamentos estratégicos, equipas estruturadas, acompanhamento presencial e uma lógica de serviço alicerçada no coletivo.

É uma fusão improvável? Talvez. Mas é, acima de tudo, um sinal inequívoco de que os mesmos acionistas querem deter, simultaneamente, modelos totalmente distintos, capturando o máximo de valor possível de um setor em forte transformação. 

.Isto revela bem o que está em jogo: um mercado que desperta enorme interesse, quer pela sua complexidade social quer pelo impacto que tem na vida das pessoas, mas também pela dimensão das receitas que gera.

Em Portugal, os desafios não são menores.

As grandes plataformas tecnológicas continuam a aproximar-se, procurando interpor-se entre clientes e profissionais, captando leads, dados e fatias crescentes de negócio. Em paralelo, multiplicam-se modelos que prometem transformar qualquer cidadão num agente ocasional, diluindo a profissão, desvalorizando o conhecimento técnico e fragilizando a confiança que tanto custou a construir.

E no centro de tudo isto estão, as empresas, os mediadores, os consultores, os que dão a cara todos os dias. Os que negociam, acompanham, esclarecem, protegem interesses e gerem decisões que influenciam profundamente a vida dos portugueses. 

São esses profissionais que recebem as famílias, que explicam processos complexos, que fazem a mediação das expectativas, que respondem pela responsabilidade de cada passo e que devem trazer ponderação ao mercado.

É por isso que o futuro não se constrói a olhar para o lado.

Constrói-se com mais serviço ao cliente, mais transparência, muito maior rigor e uma exigência legislativa que finalmente acompanhe a importância real do setor. Temos de dominar tecnologia, mas também de escolher cuidadosamente que tecnologia colocamos dentro de casa. Temos de ser mais eficientes, mas sem abdicar da função social, económica e ética que nos distingue. Temos, sobretudo, de saber identificar soluções que reforcem o nosso trabalho e não monstros que um dia se possam virar contra nós.

A mediação imobiliária não pode ser reduzida a cliques, algoritmos ou modelos de intermediação de baixo custo. A nossa atividade exige conhecimento, presença, responsabilidade e compromisso. O que está em jogo não é apenas a profissão. É a confiança de um país inteiro num momento decisivo da vida de cada pessoa: a compra, venda ou arrendamento de uma casa.

E é precisamente por isso que continuaremos na linha da frente da eficácia, da tecnologia, da ética e da defesa intransigente de um setor que tem, e terá sempre, um impacto gigantesco na vida dos portugueses.