Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Medo!

13/09/2023

Esta mensagem provocou-me claramente uma sensação de medo. Desde logo, porque sempre, ao longo da história da Humanidade, os eventos mais severos associados ao racismo, homofobia, à xenofobia, ocorreram em momentos em que outros valores se impunham.

E o que temos neste momento em mãos de mais relevante tem a ver com a dificuldade que tantos têm em aceder a uma casa, por via do arrendamento ou da compra. Há muitas pessoas para as quais isso se está a revelar, de facto, uma tarefa quase impossível. Portanto, o nosso Estado, Governo, sociedade, está confrontado com o grande desafio de sermos capazes de encontrar soluções. Mas isso não pode pôr em causa os valores de uma Nação aberta ou a principal reserva de valor da generalidade da população portuguesa.

Podemos debater sobre quais poderão ser as soluções, mas também sobre o que não pode ser solução. E aquilo que não pode ser solução é a ideia de baixar os preços das casas, e por um motivo simples: porque é aqui que está o "mealheiro" da grande generalidade da população portuguesa.  Portanto, quando alguém diz que se vão colocar as casas mais baratas, o que é que isso significa? Significa que se precisar de vender a minha casa para ajudar os meus filhos, vou receber menos valor? Isso significa que se precisar de vender a minha casa, porque tenho de enfrentar uma adversidade de saúde, vou ter menos valor? Se um agregado familiar que decide vender a sua casa porque quer que a sua família cresça ou para reiniciar o seu projeto de vida noutra localização, terá de ter menos valor? A ideia é realmente assustadora...

Sabemos que são necessárias soluções habitacionais para quem não consegue pagar casas a preços acessíveis. Isso é óbvio. E é também óbvio que isso só vai ser possível com intervenção do Estado, para que amanhã existam essas dezenas de milhares de casas que serão necessárias para superar esta adversidade. A solução da escassez de casas a preços acessíveis, não pode ser acabar com elas. Não pode ser acabar com a reserva de valor que as famílias foram construindo ao longo de uma vida e onde têm armazenadas as suas poupanças.

73% das famílias em Portugal são proprietárias de um imóvel, e muitas trabalharam décadas para conseguir pagar aquela prestação ou para conseguir fazer aquela compra. Não só a adversidade da escassez habitacional pode sobrepor-se a valores tão importantes como o da plena aceitação de qualquer estrangeiro na nossa sociedade, como também nenhuma dos 4 milhões de famílias portuguesas deve aceitar que a resolução das dificuldades habitacionais passe por reduzir o valor das suas poupanças e do seu património.  Esperemos que o medo passe.