Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

Mind the Gap

18/01/2023

Mas ainda não é sobre as vantagens de uma rede de linhas de metro eficiente para a organização de uma cidade que me vou debruçar este mês, mas sim sobre outros gaps que existem no nosso país e muito especialmente os insurance protection gaps (PG) que poderíamos traduzir por Faltas de Proteção de Riscos Seguráveis.

No seguimento da publicação recente de alguns trabalhos académicos como o da Nova SBE (Protection Gaps na economia portuguesa) ou do Dashboard de Falta de Proteção de Seguros para Catástrofes Naturais da Autoridade Europeia para Seguros e Pensões Ocupacionais (EIOPA), este tema tem ganho maior relevância.

De acordo com o trabalho da NOVA SBE, os diferentes PG do nosso país foram agrupados em categorias de risco, tendo sido apresentada uma análise comparativa do nível de proteção dos vários países da União Europeia (UE). Nos riscos climáticos e de catástrofes naturais, Portugal é o 9º país da UE com maior falta de proteção com 96% de perdas não cobertas, contra 78% para a média da União. A Dinamarca apresenta o menor gap com 44% de riscos cobertos. A França tem 59% de cobertura e a Alemanha 63%.

No Dasboard para Portugal da EIOPA, a conclusão aponta para um PG relevante nos incêndios florestais devendo o risco sísmico ser monitorizado de perto. A EIOPA considera que o risco sísmico poderá representar a principal preocupação no futuro, com possíveis repercussões sistémicas no país, devido aos potenciais eventos devastadores em áreas que combinam um nível muito elevado de vulnerabilidade e uma exposição com níveis muito baixos de cobertura de seguros. A conclusão aponta para uma necessidade urgente de implementação de ações destinadas a reduzir esta falta de proteção que tem como um dos principais objetos o património imobiliário do nosso país.

Estas conclusões constituem um vigoroso Mind the Gap que deveria ser ouvido pelos decisores públicos. A atividade seguradora tem a experiência, os instrumentos e a capacidade financeira para apresentar soluções para reduzir este risco. Mas a cobertura de risco sísmico atual é muito insuficiente, uma vez que é facultativa (exceto em alguns casos de empréstimos hipotecários) levando a situações em que, por exemplo, num imóvel apenas algumas frações terem esta cobertura o que levantaria questões de difícil resolução em caso de sinistro. Numa altura em que a Habitação ganha a visibilidade de um Ministério autónomo, é também importante que seja dado seguimento a propostas como as que têm vindo a ser apresentadas pela Associação Portuguesa de Seguradores e pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões.

Não deveria ser necessário continuar a ouvir a cada mudança o aviso: Mind the Gap !