Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Não há motivo para bolha

02/12/2020

Se na última crise havia um excesso de oferta e de exposição dos “proprietários” à banca, desta vez a realidade é diferente, uma vez que, ao contrário do que aconteceu na crise anterior, em que havia excesso de stock, agora não há no mercado ativos suficientes para dar resposta a uma elevada procura por parte das classes média e média baixa, que não conseguem encontrar ativos à medida das suas necessidades e possibilidades.

O banco Suíço UBS elencou recentemente uma lista das 25 cidades com maior risco de enfrentar uma bolha imobiliária, o “Global Real Estate Bubble Index 2020”, na qual não surge nenhuma cidade portuguesa. No topo das cinco cidades que mais apresentam riscos estão Munique, Frankfurt, Toronto, Hong Kong e Paris.

O redator deste estudo, adianta que o principal motivo pelo qual o preço do mercado residencial não ter sido influenciado negativamente em algumas cidades, se prende com as medidas implementadas por alguns Governos no contexto da crise pandémica que vivemos.

Moratórias de crédito ou suspensão de despejam, às quais se juntam condições de financiamento às famílias e empresas (que, devido às baixas taxas de juro praticadas, continuam a ser favoráveis), têm promovido a resistência do mercado até então.

No entanto, tendo em conta a expetativa de retração económica que se verifica e que se espelhará inevitavelmente no mercado imobiliário, há que considerar que nos esperam tempos difíceis, o que é particularmente complexo num tecido empresarial como o nosso que se revela ainda frágil e a curar a feridas da anterior crise.

Não há nenhuma dúvida de que o imobiliário português continua a ser um bom porto seguro de investimentos, e que não há motivos para que se assista a uma desvalorização dos preços das casas (exceção feita às que já estivessem a ser disponibilizadas no mercado a valores especulados), mas temos que estar atentos e cautelosos.

Por isso, mais otimista que seja, enquanto dirigente associativo que pugno pela defesa do sector imobiliário e que recebo os relatos de centenas de empresas que estão a sentir dificuldades no seu dia-a-dia, muitas delas vendo-se à beira de encerrar portas, não posso promover um discurso que não vá de encontro àquela que é a realidade a que assisto, como às vezes me é solicitado.

Preocupa-me por isso o sensacionalismo com que às vezes se tratam temas bem sérios, que podem pôr em causa o bom desempenho do sector económico e que têm óbvio impacto negativo na perceção do imobiliário.

Por isso apelo a todos os agentes do sector que sejam prudentes quando se pronunciam publicamente, pois com transparência, verdade e com um discurso uno, continuaremos a defender o imobiliário, que continua a dar provas de ser uma das forças motrizes da nossa economia.