Por um lado, um grupo de pessoas que reivindica um modelo igualitário, despojado de bens materiais, mais amigo do ambiente, com mais qualidade de vida e bem-estar e ações concretas e radicais para responder aos desafios climáticos. Por outro lado, os jovens que ambicionam o direito às casas, à habitação, a melhores salários, um conjunto de direitos legítimos que devem ser assegurados para todos. E é sobre estes que quero refletir.
Nesta sociedade e neste modelo democrático que privilegia o Estado social e que caracteriza grande parte dos países da Europa, todas estas coisas que nos rodeiam e que ambicionamos ter - a segurança, a saúde, a cultura, a habitação – obtêm-se com um outro recurso, oriundo do desenvolvimento económico. O dinheiro. Sabemos também que numa sociedade ou em países onde não existe desenvolvimento económico, a generalidade da população é muito pobre e vive com grandes constrangimentos diários. O seu maior sonho é sair de onde estão. Aqueles que diariamente arriscam as suas vidas e as dos seus filhos a atravessar o Mediterrâneo têm o sonho de estar onde nós estamos.
Por isso, é tão importante que este País continue a ser a “casa” onde os portugueses querem ficar, e um bom sítio para viver… Para todos nós e para todos os que possamos acolher.
Temos em mãos um problema social grave que importa resolver? Sim! É o acesso à habitação. É a urgência de o Governo implementar medidas que permitam a criação de soluções habitacionais a custos controlados. E temos simultaneamente, de perceber que a economia não pode ser sacrificada para cumprir este objetivo, sob risco de tudo sacrificar. Só serão possíveis soluções para o problema da habitação com significativos recursos financeiros. Os recursos financeiros do Estado português, das empresas, das pessoas só acontecerão com desenvolvimento económico.
Isentar em IRS quem aloja estudantes poderia ser uma medida importante, mas irá custar dinheiro, criar estímulos fiscais suficientemente atrativos a troco de colocar casas no mercado a custos controlados, pode ser necessário, mas irá custar dinheiro, criar mecanismos ágeis e de total eficácia na restituição de bens locados aos seus proprietários quando se verifiquem óbvias situações de incumprimento, será uma boa medida, irá custar bastante dinheiro, adaptar o património disponível do Estado a habitações e colocá-las no mercado a custos controlados, sim, quanto antes, irá custar muito dinheiro, estimular e apoiar a promoção privada de empreendimentos destinados ao mercado de arrendamento a custos controlados, sim e também irá custar muito dinheiro.
Os proprietários não podem ser diabolizados. Quem tem casas para arrendar e procura obter o melhor proveito possível, não pode ser diabolizado. As pessoas que procuram construir um negócio, explorando uma casa e vendendo noites a turistas, não podem ser diabolizadas. Os estrangeiros que escolhem Portugal para viver não podem ser diabolizados, os promotores que procuram construir um prédio onde as casas são muito caras, não podem ser diabolizados.
Sobretudo, porque todos aqueles que precisam de casas não podem ser esquecidos.