Luis Lima
Luis Lima
Presidente da APEMIP

Nova normalidade

23/07/2020

No sector imobiliário, o ano de 2019 fechou-se a registar uma taxa de crescimento de 2% no número de vendas de imóveis de habitação. Apesar do ritmo de crescimento ter abrandado, num panorama que já era expectável devido à ausência de stock adequado às necessidades e possibilidades da procura, o registo manteve-se positivo e este o ritmo que se esperava que marcasse o passo para o ano de 2020.

Mas a crise pandémica veio trocar as voltas não só ao imobiliário, como a toda a economia exposta a uma situação sanitária para a qual não estava preparada, e seria irresponsável e irreal negar que o sector está a sofrer consequências da quase obrigatória paralisação a que nos vimos votados, e que se refletirão no desempenho do sector.

Ainda assim, creio que perante as dificuldades, as empresas portuguesas foram relativamente céleres a adequar-se às necessidades impostas pelo recomendado confinamento. No sector imobiliário, vimos muitas a recorrer a alternativas tecnológicas para manter e dinamizar a relação com os seus clientes, nomeadamente através da “democratização” das visitas virtuais, que vieram para ficar, adaptando os seus modelos operacionais àquela que é agora apelidada de “nova normalidade”, e que passará a integrar as habituais atividades das imobiliárias.

A segurança passou também a ser particularmente relevante, através da garantia do cumprimento das regras de segurança estabelecidas pela Direção Geral da Saúde, sendo que os próprios clientes passam a fazer, com o apoio dos seus consultores, uma pré-seleção mais criteriosa dos imóveis que querem realmente visitar, após a realização de prévias visitas virtuais.

No panorama do mercado, surge a chance de promover a dinamização do mercado de arrendamento e do investimento para este sector, que se estima que cresça, e também uma janela de oportunidade na captação de não residentes e na descentralização do investimento, pela generalização do teletrabalho.

No entanto, as incertezas sobre o futuro e o comportamento pandémico vêm dificultar o planeamento. Se numa primeira fase beneficiámos do “milagre português” naquela que foi a gestão pandemia, neste momento pós confinamento os surtos de covid têm vindo a deitar por terra os louros ganhos e a imagem de segurança e confiança que transmitimos ao exterior.

Torna-se complexo gizar estratégias sem saber quando e como poderão ser postas em prática. Mas, como já tenho referido publicamente por diversas vezes, mantenho-me otimista, pois acredito verdadeiramente que o imobiliário poderá ser, como já foi na última crise, uma das forças motrizes para a recuperação económica do País, sendo eventualmente a locomotora que alavancará outros sectores, como o do turismo, que creio que tardará um pouco mais a restabelecer-se.

Mesmo assim, o meu otimismo vem conjugado com uma boa dose de realismo perante os desafios que temos pela frente, e que se prendem essencialmente com o expectável impacto que a crise terá na estabilidade orçamental das famílias e das próprias empresas. Por outro lado, também a tendência para o adiamento de investimentos e a retração das viagens terão reflexos na procura existente.

Perante tantas incertezas sobre o que aí vem, uma coisa é certa: a APEMIP continuará fazer o seu trabalho de defesa do imobiliário e da classe, contribuindo para este sector volte, como já o demonstrou no passado, a ser uma das principais alavancas da recuperação económica do País.