Francisco campilho
Francisco campilho
Administrador-Delegado da VICTORIA Seguros

Para onde caminha a Inteligência dos Edifícios?

12/04/2023

Com uma programação baseada em alguns parâmetros, o sistema assegura, por exemplo, que a partir de determinada hora nenhuma luz fica ligada no edifício. Aliás, as luzes apagam-se a partir das seis da tarde obrigando quem ainda lá estava a acendê-las, mas apenas estas. O mesmo acontece com o sistema de aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC) contribuindo desta forma para a redução da fatura energética do imóvel. Ao longo dos anos, foram vários os episódios em que os utilizadores do edifício assistiram, muitas vezes impotentes, a algumas demonstrações de uma certa limitação desta inteligência, com estores a fecharem automaticamente, luzes a abrirem a meio da manhã… Episódios sem impacto e que fazem parte da história de todos os que por ali têm passado.

A tendência atual para estes sistemas inteligentes de gestão de edifícios é não só conseguir uma otimização do custo, mas também das emissões de carbono. Um número recente da revista Investments and Pensions in Europe - Real Assets (I&PE) aborda este tema no âmbito de uma análise da digitalização do setor imobiliário.

Relativamente à gestão dos edifícios, o contributo dos avanços da Inteligência Artificial (IA) vem contribuir para uma experiência diferente daquela que mais acima descrevi. A orientação é a da melhoria da experiência do utente do imóvel. Ao recolher informação sobre a forma como as pessoas estão no imóvel, as horas de ocupação, o número de ocupantes em cada instante, as previsões meteorológicas, o custo da energia… O sistema aprende a fornecer uma gestão verdadeiramente otimizada do ponto de vista do custo, da pegada de carbono e da utilização do imóvel pelos seus utilizadores. Os avanços na Internet of Things (IoT) com a ligação de sensores aos mais diversos equipamentos e infraestruturas permite, por outro lado, garantir uma maior eficácia e pertinência na gestão de todo o imóvel (verificando os equipamentos, contratando reparações...), abrangendo as zonas comuns que se tornaram essenciais e críticas no regresso aos escritórios pós-pandemia. A gestão de outras matérias com impacto na sustentabilidade, como as águas residuais, bem como a possibilidade de reportar os indicadores relevantes da utilização do imóvel, tornam estes novos sistemas essenciais numa perspetiva de critérios ESG (ambiente, social e governação). Em termos gerais europeus, cerca de 90% dos escritórios têm mais de dez anos e não cumprem os atuais standards de eficiência energética o que representa um desafio e também uma oportunidade para a renovação e para a reconversão nos próximos anos.

Estes são apenas alguns dos temas do impacto da IA e talvez aqueles que mais facilmente conseguimos integrar nos processos atuais. Outros avanços como os gémeos digitais (réplicas digitais dos imóveis que permitem simular, mas também acompanhar o funcionamento do gémeo físico), ou a presença do investimento e da construção de escritórios no Metaverso, são caminhos para o futuro do setor que, porventura mais cedo do que antecipamos, se vão tornar “reais”.