Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Para onde caminhamos?

10/01/2024

São inúmeras e felizmente abundantes aquelas que hoje com 50, 60 anos, tendo “partido” de “patamares” muito adversos, com origens humildes, conquistaram notáveis níveis de sucesso em múltiplos domínios da nossa sociedade.

Será angustiante antever uma sociedade em que adultos bem-sucedidos não encontraram barreiras significativas e profundamente desestruturantes, enquanto outros não tiveram quaisquer possibilidades de progredir devido à sua incapacidade financeira. Este fenómeno está a gerar grande polarização social, à semelhança do que ocorre em países como os Estados Unidos da América, a Argentina, a Itália ou o Brasil. Por cá, qualquer que seja o próximo Governo, talvez comece a tornar-se necessário entender que mais do que uma crise na habitação, na saúde e na educação, há uma enorme crise de ausência de equidade social.

Na saúde, ao ouvirmos os testemunhos de pessoas que aguardam dezenas de horas nos serviços de urgência dos hospitais públicos, é crucial ter presente que ficam excluídos desse cenário os doentes que possuem meios financeiros para recorrer a outras unidades.

Na educação, é fundamental reconhecer que a avaliação da eficácia do ensino oficial tem resultados desastrosos. No entanto, dessa análise ficam à margem os jovens provenientes de famílias suficientemente abastadas para lhes proporcionarem um percurso académico de excelência em instituições alternativas.

Na esfera da habitação, observamos um aumento significativo de jovens impossibilitados de alcançar a tão desejada casa, própria ou arrendada. Mais uma vez, temos de excluir desse grupo aqueles que provêm de um contexto familiar com meios suficientes para assegurar uma casa com todas as condições desejadas.

Perder a perspetiva de transversalidade de oportunidades representa, de algum modo, a falência do regime pelo qual todos “lutámos” e que de forma geral todos temos defendido.

Lá na frente, os que por cá ficaram e não tiveram a oportunidade passar por um sistema educativo eficiente, de ter cuidados de saúde adequados, ou de ter uma casa, refúgio de desenvolvimento pessoal e familiar, muito dificilmente terão as mesmas oportunidades dos outros.

Os nossos governantes não têm promovido a universalidade de oportunidades, quando combatem ou excluem “fontes” de desenvolvimento económico. A nossa sociedade só poderá convergir para uma maior equidade social, através de recursos financeiros, que só serão uma realidade com crescimento económico.