Hugo Santos Ferreira
Hugo Santos Ferreira
Vice-Presidente Executivo, APPII

Os 15% do PIB que nos podem vir a salvar

25/03/2020

Foi com estranheza que verificámos que, do pacote de medidas de combate ao COVID19, nenhuma se refere ao sector imobiliário e tão pouco as medidas de aplicação geral se adequam aos seus investidores.

Acontece que, apesar das preocupações serem agora de curto-prazo (a maioria das medidas criadas), a verdade é que, em prol do bem comum e da nossa economia no futuro, não podemos esquecer as repercussões que esta paralisação vai causar a médio-longo prazo nas empresas e por consequência nos postos de trabalho e na carteira de milhões de portugueses no pós-COVID19.

É aqui que entra precisamente o investimento imobiliário, que provou há muito pouco tempo (crise financeira 2008) ser capaz de ressurgir das cinzas e de ser o primeiro sector a reerguer-se, trazendo depois todos os outros a reboque. Que já provou ser capaz de alavancar toda a economia no período pós-TROIKA, tendo sido competente e responsável por atrair riqueza e capital ao nosso País, quando mais nenhum outro sector o soube fazer. Com efeito, o sector do investimento imobiliário nacional foi capaz de atrair, desde 2014, mais de € 100 mil milhões e vinha sendo capaz de atrair anualmente, mesmo contra tudo e todos e sendo um dos sectores mais mal tratados de toda a economia de forma inadmissível, um valor a rondar os € 30 mil milhões, o que representava 15% do PIB nacional. Tudo investimento que tanta falta nos vai voltar a fazer no futuro.

Pois bem, parece que tudo se pode voltar a ter de repetir. E, portanto, urge fazer de tudo para não deixar estas empresas de promoção e investimento imobiliário morrer, à sua sorte, esquecidas mais uma vez. Tudo deve fazer-se para se criar medidas preventivas adequadas, como aliás já foi feito noutros sectores considerados estratégicos, pois pode ser que venhamos, novamente, a precisar dessas mesmas empresas no futuro, como aconteceu aliás num passado recente. E será nesse futuro, que se aproxima, que vamos constatar afinal quem é, mais uma vez, um sector estratégico.

Infelizmente, a gravidade e as proporções desta Pandemia estão já a paralisar muitas das empresas de promoção e investimento imobiliário, com duros cortes nas suas receitas, o que provocará um estrangulamento de tesouraria, colocando em risco toda uma fileira que depende quase a 100% destas mesmas empresas (sim a 100%, uma vez que quase não tínhamos investimento público, sendo a larga maioria privado) e que compreende, desde logo, o sector da construção e todos os demais prestadores de serviços que gravitam em torno delas e que delas vivem, colocando assim em risco milhares de postos de trabalho e outros tantos milhões de famílias que dependem desta fileira.

Não sendo esta uma atividade com faturação corrente e constante, o impacto que já se sente com a suspensão do investimento e transações imobiliárias e com a paragem de obras não se mede em volumes de negócios aos longo dos meses. Portanto, urge criar formas de apoio efectivas e diretas à tesouraria, que não dependam de reduções no volume de negócios futuras, mas que possam ser libertadas e utilizadas de imediato. Só assim será possível preservar os investimentos, evitar despedimentos e proteger postos de trabalho. Porque daqui a meses, se nada se fizer, muitas empresas irão fechar portas!