Nuno Nunes
Nuno Nunes
DIRETOR DE CAPITAL MARKETS, CBRE

Uma perspetiva sobre o futuro do imobiliário em Portugal

21/09/2022

A inflação descontrolada e consequentemente os sucessivos aumentos das taxas de juro de referência com o objetivo de arrefecer a economia, cuja amplitude final é ainda difícil de estimar, irão provocar um ajustamento na economia e no imobiliário. No entanto, em vários segmentos e em alguns países os fundamentais do mercado continuam muito fortes com uma procura bastante robusta por parte dos inquilinos e pressão para a subida de rendas. Existe também ainda muito dinheiro levantado por aplicar do lado dos investidores. No equilíbrio entre estas duas forças contrárias irá jogar-se a magnitude do ajustamento do preço dos ativos. 

Outro fator que irá marcar o imobiliário são as crescentes preocupações com a sustentabilidade e impacto social do imobiliário. Com a crescente consciencialização de todos os intervenientes no mercado, provavelmente iremos assistir a uma revolução na forma como se planeia, constrói, utiliza e se investe em imóveis.

Portugal neste momento está numa posição mais favorável do que outros países europeus, paradoxalmente em parte devido a algumas das ineficiências do mercado português. Por exemplo, devido aos constrangimentos e morosidade dos processos de licenciamento, não foram construídos os edifícios de escritórios, os armazéns ou as casas suficientes para dar resposta à procura. Desta forma, em muitos destes sectores ainda hoje a procura é maior do que o espaço ou ativos disponíveis e existe uma pressão para a subida das rendas e dos preços. O que representa um forte fator mitigante para o efeito da subida das taxas de juro e previsível arrefecimento da economia.

Seria ainda mais atrativo, caso o enquadramento legal e fiscal fosse mais estável e não fossem introduzidos fatores adicionais de perturbação, como por exemplo a recente limitação à indexação do aumento das rendas em 2023.