Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

“A política deve ser das pessoas”

20/03/2024

A política, a religião o futebol mais um ou outro…, lideram frequentemente essa lista, sendo relegados para uma espécie de "zona proibida" de diálogo. No seio da família, das organizações, dos grupos de amigos, de pessoas, são uma espécie de combustível para discussões acaloradas e raramente produtivas. Discutir política numa amplitude ideológica integral acerca do modelo de sociedade em que queremos viver, sim, seguramente fará parte da panóplia de conversas acaloradas e muitas vezes fraturantes. No entanto, ao incluir as políticas que caracterizam atualmente as nossas vidas nessa pequena panóplia de assuntos “tabu” e, portanto, negligenciar a discussão política é na verdade um processo de abstração de aspetos fundamentais das nossas vidas.

Não falar de política, é deixar de discutir saúde, educação, justiça, equidade social, cultura, economia e todos os outros elementos que definem a nossa existência prática em sociedade. 

Muitas vezes, os debates políticos são tão polarizados e inflamados quanto uma discussão acalorada entre adeptos do Benfica e do Sporting. No entanto, não tem de ser assim, não deve ser assim. A diversidade de opiniões é uma característica essencial de uma sociedade democrática, e é fundamental para promover um diálogo construtivo que respeite essa diversidade.

Ao colocar o debate político no domínio dos temas estruturalmente fraturantes, corremos o risco de produzir um género de esteroides que, se por um lado têm insuflado extremos ideológicos, por outro têm afastado os cidadãos da participação ativa nas diversas forças partidárias.

Portugal é um país com uma exígua participação ativa da sua população nos diversos partidos políticos. Basta observar os eventos mais relevantes de qualquer das forças políticas, para constatar quantos lá se encontram para escolherem aqueles que seguidamente serão sujeitos ao sufrágio a que todos somos chamados. 

Quando num congresso, convenção ou evento relevante de qualquer das nossas forças partidárias, estiver presente um número semelhante à lotação de um dos nossos principais estádios de futebol, uma coisa será certa, as escolhas que de lá saírem, sejam quais forem, terão muito mais mérito e muito maior relevância democrática.

É claro que é preciso discutir imigração, é claro que é preciso encontrar soluções que permitam o acesso a habitação digna, é claro que é preciso procurar soluções para todas as questões que nos podem ajudar a ter uma vida melhor.

Nós, todos nós, devemos procurar ter mais intervenção junto dos partidos políticos com que cada um mais se identifica. Todos, têm de começar a pensar que antes de procurarem reunir votos, têm de reunir adeptos das suas ideias, das suas propostas e das suas escolhas, antes dos cidadãos serem chamados às urnas.

Ao evitar discutir temas importantes sob a premissa de que são fraturantes, corremos o risco de criar um ambiente de hesitação, medo e alienação, produzindo um sistema partidário onde pequenos grupos fazem as suas escolhas, traçam os seus caminhos e agregam os seus semelhantes. E seguidamente, escolhemos soluções relativamente às quais nos ausentámos por nossa única responsabilidade.