Paulo Caiado
Paulo Caiado
Presidente da Direção Nacional da APEMIP

Precisamos de um Estado sem preconceitos

06/10/2022

Se por um lado há muitos aspetos cheios de imprevisibilidade sobre a “intensidade” e duração das adversidades que se aproximam, por outro há a certeza de que as suas consequências serão muito mais severas nas faixas de menores rendimentos da nossa sociedade.

Há também a certeza de que o Estado Português há muito que não tem recursos para auxiliar de modo transversal a população Portuguesa, de outro modo não haveria dívida pública nem défice.

Assim sendo, esperemos que a medida adotada de dar 125 euros aos Portugueses com salário bruto inferior a 2700 euros, tratando com equidade formal todos os que estão abrangidos pela medida, seja quem tem salários brutos inferiores a 1000 euros ou superiores a 2000, tenha sido um mero ato pontual e muito isolado.

Isto porque o Estado Português acaba de nos comunicar (algo óbvio) que não poderá acorrer a todos, o que parece compreensível para a generalidade das pessoas.

Não precisamos de equidade onde ela não pode ser implementada, precisamos que os mais desfavorecidos possam contar com um Estado mais interventivo.

Diz-se que em Portugal as casas estão muito caras, é um facto que em muitas localidades os preços tornaram-se inacessíveis para a generalidade das pessoas, o que fez e faz com que os resultados desses valores venham para a economia nacional da qual todos beneficiamos.

Qualquer um pode fazer o exercício de pesquisar na internet um T2 em capitais de outros Países, encontraremos T2 para venda a começar nos 15000 euros e rendas a partir de 100 euros, felizmente que nenhum desses Países é o nosso.

Importa acabar com algum tipo de preconceito porque se por um lado é todo o País que ganha com a valorização dos imóveis e das rendas quer por via das receitas diretas, quer por via das receitas fiscais, por outro torna-se imperativo que o estado intervenha auxiliando aqueles que não conseguem aceder a uma habitação digna.

O setor imobiliário é um dos mais importantes da economia nacional: numa crise económica quanto mais resistente esse setor se mantiver, maiores serão os benefícios globais para o nosso País, sendo que o melhor que o Estado pode fazer para o proteger, é assegurar que não há exclusão habitacional.

Se em Lisboa fosse possível arrendar um T2 por 100 euros ou comprar um T2 por 15000 euros, teríamos motivos para estar muito preocupados.