Susana Soares
Susana Soares
Técnica da área de Edifícios da ADENE – Agência para a Energia

A primavera da eficiência

20/04/2022

A Comissão Europeia apresentou no dia 30 de março um pacote de propostas no âmbito do Pacto Ecológico Europeu para tornar os produtos sustentáveis à norma na UE, impulsionar modelos de negócio circulares e capacitar os consumidores para a transição ecológica.

Nesse pacote consta uma proposta de revisão do regulamento dos produtos da construção, criando um quadro harmonizado, baseado em normas europeias comuns, para avaliar e comunicar o desempenho ambiental e climático dos produtos de construção. Novos requisitos para o projeto e a fabricação irão tornar tais produtos mais duráveis, reparáveis, recicláveis e mais fáceis de refabricar. Esses requisitos ficarão registados numa base de dados de produtos de construção e num passaporte digital de produto.

São boas notícias e perspetivas animadoras para primaveras vindouras. Mas e para esta primavera que agora começa? O que podemos fazer já hoje, enquanto utilizadores de um parque edificado em que quase 90% das casas está abaixo da classe A (www.sce.pt/estatisticas), o atual padrão mínimo para novos edifícios?

São muitas as soluções e novidades tecnológicas que, em contexto de reabilitação, podem tornar as casas mais eficientes e confortáveis. No entanto, a base fundamental de tudo permanece inalterada há muitos séculos: um bom uso da arquitetura e das soluções construtivas para aproveitamento da luz solar. Focando só nesse particular, eis então alguns exemplos e sugestões.

Nos dias mais frios, devemos aproveitar ao máximo os ganhos de calor que podemos ter, principalmente através das janelas. Nesses casos, sempre que possível e durante o dia, devemos retirar as proteções móveis das janelas, como é o caso de estores/persianas/cortinados, “destapando” o vidro para que este deixe passar a radiação solar, para dentro de casa, aquecendo-a naturalmente.

Há medida que avançamos para o verão, com o sol no seu auge, devemos acionar as proteções das janelas, impedindo o excessivo ganho de calor durante o dia. Porém, durante a noite, quando a temperatura exterior é inferior à temperatura dentro das casas, abrimos as janelas, tirando proveito das que se encontram em fachadas diferentes, por exemplo Norte/Sul ou SE/SW. Esta ação vai permitir o deslocamento do ar dentro da casa, “varrendo” os compartimentos e arrefecendo o ambiente de forma gratuita.

Estas e outras soluções simples são sempre atuais e normalmente fáceis de implementar. Dependem da nossa iniciativa e estão, literalmente, na nossa mão. Todos podemos ser parte ativa nesta mudança de paradigma e contribuir para a primavera da eficiência e da sustentabilidade dos nossos edifícios.