Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

A próxima geração de cidades

22/11/2023

Do volumoso estudo a nível global, retiram-se várias conclusões, entre as quais a de que o futuro é urbano. A capacidade de atração da cidade continua a ser uma característica da forma como nos organizamos para viver e trabalhar. A urbanização aparece assim ligada a vários desafios existenciais da sociedade atual. O episódio de saída da cidade para o campo que caracterizou a época da pandemia, parece ter sido apenas isso mesmo, um episódio. As grandes cidades, mesmo que a um ritmo mais lento, continuam a crescer e as pequenas e médias cidades ganharam mais vitalidade e novas perspetivas.

Voltando às três características da Lisboa futura, a anunciada harmonia tecnológica e sustentável terá de estar ligada ao planeamento urbano bem como à diversidade económica da cidade. Quanto mais próximo se trabalhar a partir do modelo da cidade de 15 minutos, a que já me referi neste espaço há uns meses: o desenvolvimento de bairros onde os residentes possam satisfazer a maior parte das suas necessidades quotidianas num raio de 15 minutos de deslocação a pé, de bicicleta (isto é, a micromobilidade urbana) ou utilizando transportes públicos. A partir da integração de infraestruturas verdes, este conceito poderá ainda trazer inúmeros benefícios para a saúde, a equidade e a adaptação à transição energética, contribuindo assim para uma atenuação dos efeitos das alterações climáticas. Um dos grandes desafios e alertas que nos é dado no relatório da ONU é a necessidade de garantir que estes “bairros de 15 minutos” não aumentem as desigualdades na cidade. É necessário garantir através de uma estrutura urbana global que não evoluímos para uma cidade com enclaves para uma população privilegiada. E neste ponto, Lisboa tem um percurso a fazer depois da evolução dos últimos anos ter levado muitos bairros numa direção oposta. Uma outra características da cidade do futuro é a sua inteligência que lhe é proporcionada pela adoção de novas tecnologias digitais que estão cada vez mais presentes no dia-a-dia. A Internet-of-Things, o blockchain e a Inteligência Artificial são as bases da cidade quer ao nível das habitações e dos escritórios e lojas, mas também na gestão de tráfego e na relação com os serviços municipais.

Por outro lado, a cidade tem mais um atributo que é igualmente prioritário: a sua resiliência. A preparação para os mais diversos cenários de eventos extremos (de uma pandemia a um tremor de terra) é um trabalho multissectorial e multidimensional em que é preciso garantir o envolvimento de todas as partes. A experiência dos últimos dois anos demonstra que Lisboa soube ultrapassar o momento mais difícil e voltar a recuperar o seu lugar como residência, local de trabalho e também destino turístico. Essa resiliência deve agora ser integrada nos planos de desenvolvimento urbanísticos, alinhando sempre que necessário aos princípios que aqui foram evocados. A visão do anúncio de uma nova geração de cidades poderá assim vir a tornar-se mais tangível para todos.