Francisco Campilho
Francisco Campilho
Presidente da Comissão Executiva da VICTORIA Seguros

A proximidade

19/05/2021

No final da década de 80, com a liberalização dos serviços financeiros, muitos cafés, pastelarias e mercearias, bem localizados, não conseguindo competir com a abertura dos centros comerciais, acabaram transformadas em agências bancárias e de seguros que procuravam expandir-se apostando na proximidade aos clientes. E cumprindo a teoria da localização, onde abria uma agência, abriam logo duas ou três. Esta terciarização do comércio local acabou por ter impacto nas ruas da cidade acompanhando a desertificação dos centros nos períodos em que os serviços estavam encerrados: fins de tarde, noite e fins de semana.

No final da última década, a crise financeira levou a uma reorganização dos serviços bancários e de seguros. A necessidade da procura de eficiência, aliada ao desenvolvimento tecnológico e digitalização dos processos (p.ex. portal de agentes ou de clientes) que permitem uma nova proximidade com o cliente, levaram a uma redução muito significativa dos balcões. Chegámos assim a uma nova fase do ciclo em que as agências de bancos e seguradoras encerraram dando lugar novamente ao comércio tradicional (cafés, pequenos restaurantes, mercearias, ...), acompanhando, em proximidade, não só o regresso das pessoas aos bairros e centros das cidades, mas também a explosão do turismo dos últimos anos. Uma volta de 360º estava dada!

Mais recentemente, o confinamento, o aumento exponencial das vendas online e os serviços de take-away, vieram trazer uma nova dinâmica da ocupação destes espaços. Muitas lojas fecharam e outras adaptaram-se a espaços mais informais, acompanhando também o trabalho à distância e muito especialmente a nova tendência de trabalho nómada. Esta população flutuante, mas com maior permanência do que os turistas, vem trazer novos desafios a estes espaços e ao futuro das cidades. Depois do regresso ao Café, agora servido com topping de wifi grátis, veremos agora surgir novos espaços de convívio e de trabalho que terão uma predominância no movimento dos bairros e centros das cidades. E os serviços, nomeadamente os financeiros, têm aqui uma oportunidade de reinventar a sua proximidade, que não é só digital, junto destes clientes com necessidades e formas de comunicação tão desafiantes. Estamos a entrar num novo ciclo de ocupação de espaços em que mais uma vez se joga a proximidade aos outros.