Falou-se muito da habitação para os mais jovens, pelo que me pareceu interessante perceber o que se passa com as condições de habitação dos mais velhos.
Esta questão torna-se mais relevante se tivermos em consideração o nosso quadro demográfico. Como já tinha referido anteriormente, o envelhecimento da população portuguesa, que segue uma tendência das economias ocidentais, vem trazer de novo ao debate público muitos temas que vão da sustentabilidade da segurança social ao défice de proteção na reforma, mas também à habitação.
Numa publicação de 2019, o Eurostat apresentou um retrato do envelhecimento da Europa, analisando a vida dos mais velhos na União Europeia (UE). Entre os vários temas tratado, há um capítulo dedicado à habitação e condições de vida. Portugal, na projeção feita para 2050, será o país com a maior percentagem de população com idade acima dos 55: cerca de 47% vs. 40% para a UE. À semelhança dos outros países da UE, em Portugal as pessoas mais velhas eram mais propensas a viver em zonas rurais: se a população com idade superior ou igual a 65 anos representa entre 19,7% e 25% na maior parte do país, no Alentejo essa percentagem é já superior a 25%. Por outro lado, apenas 2,5% dos homens e 5% das mulheres com mais de 65 anos viviam em lares ou instituições. As habitações deste grupo etário são também caracterizadas por serem subocupadas: 60% vivem em casas maiores do que precisariam vs. 30% no grupo etário dos 18 aos 64 anos. Relativamente à titularidade da habitação, cerca de 68% (vs. 61% na UE) eram plenos proprietários da sua habitação, 2% (vs. 2% na UE) eram proprietários com hipoteca, 16% (vs. 15% na UE) eram inquilinos de renda reduzida e 14% (vs. 22%) inquilinos com renda de mercado. Por outro lado, cerca de 15% das habitações tinham um índice elevado de pobreza energética, independentemente do grupo etário. Para o total da UE, este indicador aproxima-se dos 8%, conseguindo ser ainda mais baixo nas habitações de casais do grupo etário acima dos 65 anos. Por último e relativamente à privação material grave, no nosso País o grupo etário acima dos 65 anos apresentava valores iguais aos de outras classes etárias. No entanto, noutros países da EU como Espanha, França, Irlanda a percentagem de pessoas com privações materiais graves é muito inferior na classe dos 65 ou mais anos do que nas outras classes etárias.
Este retrato mostra-nos um grupo de pessoas que representa uma parte cada vez maior da população e que se debate com problemas de habitação desadequada em termos de dimensão, de pobreza energética e sem apoios que reduzam as situações de privação material grave. Nos últimos quatro anos e após o período da pandemia, este quadro deverá ter-se agravado. As políticas para a habitação têm a obrigação de também apresentar soluções para as várias questões especificas a este grupo etário.